A Capital dos Ipês sofre a queda de árvores com a tempestade do fim de semana

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As árvores não são as vilãs do que aconteceu na Capital. A chuva e os ventos com velocidade de quase 100 km/h, que atingiram a cidade no último dia 15 de outubro, derrubaram mais de 150 árvores por toda a cidade. Assim como os donos de casas e de carros, elas foram as vítimas deste fenômeno climático – elas foram as vítimas FATAIS.

Os acontecimentos recentes de tempestades de poeira com fortes ventos ocorridos em Campo Grande e outros 17 municípios de Mato Grosso do Sul, colocaram holofotes sobre as árvores urbanas. Infelizmente, por alguns dias estas deixarão de ser lembradas como cartões-postais e motivo de celebração na capital, para alcançarem o status de vilãs da história. Mas será que elas realmente o são?

O início desta história começa em notícias veiculadas há anos sobre as mudanças climáticas resultantes do aquecimento global, que achávamos tão distante da nossa realidade. Pois bem, a má notícia é que já estamos sentindo, neste momento, as suas consequências.Alguns cientistas preveem que esse tipo de evento pode se tornar muito mais comum. Estudos recentes indicam que as tempestades intensas poderão se tornar 14 vezes mais frequentes no continente europeu até o final do século, por conta do aquecimento global.

E como nós, aqui no Brasil, estamos percebendo essas alterações? A situação mais recente nos remete às tempestades de poeira que ocorreram no final de setembro nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul e novamente, na última sexta-feira, aqui em Campo Grande – MS.

Estas tempestades são raras no Brasil, mas muito comuns em outras regiões do mundo, onde são conhecidas como “haboob”. São causadas por temporais de chuva com ventos fortes que, ao entrarem em contato com o solo muito seco, encontram resquícios de queimada, poeira e vegetação seca. Essa combinação causa uma espécie de “rolo compressor” gigante de sujeira que pode chegar a até 10 quilômetros de altura, associada à ventania forte.

A Escala de Beaufort, concebida pelo meteorologista anglo-irlandês Francis Beaufort no início do século XIX, classifica a intensidade dos ventos de acordo com a velocidade e o poder de destruição. Ela varia entre grau zero e 12, sendo o grau zero atribuído a ventos calmos e o grau 12 a furacões, quando a velocidade do vento ultrapassa os 118 km/h. Em notícias veiculadas após o ocorrido na capital, relatou-se que as rajadas de vento atingiram 94 km/h durante o evento da sexta-feira. Esta situação se enquadra no grau 10 da Escala Beaufort, que prevê como efeitos em terra, que árvores sejam totalmente arrancadas e possível danos estruturais em construções. Assim, a queda de tantas árvores em Campo Grande, muitas destas saudáveis, embora tenha sido uma situação inusitada para muitos, já era prevista desde o início do século XIX. Não obstante, um vendaval de 54 km/h é, normalmente, o valor utilizado como referência por seguradoras em sinistros em casos de danos ao patrimônio.

Escala de Beaufort de intensidade dos ventos

A culpa não foi das árvores! E, a maioria delas permaneceriam fornecendo os serviços ambientais à população por mais algum tempo, caso não tivéssemos passado por um evento climático extremo. E, será que se todas as pessoas conhecessem todos os benefícios da arborização, seriam capazes de ter menos medo e enxergariam que é mais vantajoso para a cidade manter e bem manejar a sua arborização? As florestas urbanas trazem diversos benefícios para nós, seres humanos, e estes já vêm sendo investigados por décadas.

Uma das causas das mudanças climáticas, tema do início dessa história, é a emissão dos gases de efeito estufa, entre eles o gás carbônico. Enquanto o mundo se organiza em convenções para firmar tratados para a redução da emissão desse gás, ele pode ser retirado da atmosfera pelo processo de fotossíntese realizado pelas árvores, que o fixa em seus constituintes, como tronco, galhos, folhas e raízes. Contribuem, também, para a redução da poluição sonora de ambientes urbanos, de forma eficiente.

Elas contribuem, ainda, para melhoria da qualidade do ar e da água, controle de enchentes, além do aumento do conforto térmico, reduzindo as chamadas “ilhas de calor” formadas em ambientes urbanos. Existem também efeitos diretos do contato com áreas verdes na saúde da população, resultando na melhoria das funções cardiorrespiratórias e do sistema imunológico, além da redução do número de casos de depressão, estresse e ansiedade.

Portanto, uma árvore bem plantada, bem cuidada e bem manejada na cidade promoverá diversos benefícios. Cabe aqui ressaltar que todos esses serviços prestados pelas árvores urbanas podem ser valorados monetariamente, por metodologias já desenvolvidas por pesquisadores da área. Assim, a decisão da remoção de uma árvore deve ocorrer quando o risco e perda econômica, resultante da queda da mesma, suplante os benefícios que a sua manutenção proporciona.