Os trilhos no caminho do MS – Um pedaço da história contada e construída por seus patrimônios

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Hoje o estado de Mato Grosso do Sul comemora a sua criação. Dia 11 de outubro de 1977, o presidente Ernesto Geisel assinou a lei complementar de número 31, oficializando a divisão do grande Estado de Mato Grosso, criando então o estado – Mato Grosso do Sul que é o segundo estado mais jovem do país, só perdendo para Tocantins.

Com a divisão, 55 cidades ficaram do lado do novo Estado, e ao longo de 44 anos de história outros 24 municípios foram criados e desde então contribuem para o potencial desenvolvimento do estado com suas particularidades.

A principal base da economia do nosso aniversariante é o agronegócio, mas o Estado também se destaca mundialmente pelas belezas naturais. Potencialidades que fazem de MS um lugar de oportunidades. Isso já era previsto em sua criação e o próprio hino do Estado já dizia

” A pujança e a grandeza
De fertilidades mil
São o orgulho e a certeza
Do futuro do Brasil “

Muito antes de sua afirmação como território independente do gigante Mato Grosso, já nas primeiras décadas do século XX, a ligação com o Estado de São Paulo pela antiga estrada de ferro Noroeste do Brasil (NOB)

A história de daqui também é contada por meio de cada edificação e nos trilhos da estrada de ferro, que chegou primeiro a Porto Esperança, ligando o estado de São Paulo ao rio Paraguai.

A estação de Campo Grande foi inaugurada em 1914. Segundo consta na revista Brasil-Oeste, de março de 1958, a primeira locomotiva a chegar no pátio de Campo Grande foi a de número 44 da E. F. Itapura-Corumbá, no dia 20/5/1914 (portanto, antes da data oficial de inauguração da estação), parando ao longo de uma plataforma improvisada como uma pilha de dormentes, ao lado de um vagão estacionário, que servia de estação.

O primeiro trem de cargas percorreu os trilhos no perímetro urbano de Campo Grande no dia 30 de maio, quando a então vila contava com apenas 1.900 habitantes, alguns meses antes da inauguração oficial da estação.

O prédio atual da estação não é o original; ele foi projetado pelo engenheiro Aurélio Ibiapina, paulista de Pirassununga e também autor dos estudos para a eletrificação do trecho Bauru-Araçatuba nos anos 1950 construído pela empresa J. Machado e finalmente inaugurado em 13 de maio de 1935.

A linha da Noroeste que ligava Campo Grande à fronteira Paraguaia – o ramal de Ponta Porã – saía aqui da estação de Indubrasil. Ela demorou 9 anos para ficar pronta, chegando primeiro à Maracaju em 1944, à Dourados em 1949 no distrito de Itaum.

Nenhum outro evento marcou e transformou campo grande como a chegada da estrada de ferro Noroeste do Brasil (NOB) em 1914, enquanto o estado ainda era o grande mato grosso. Foi um marco na história da cidade que anos depois recebeu todo o complexo ferroviário.

O ramal foi suprimido para passageiros em 1996 e hoje está totalmente abandonado.


A estação continua ali, mas não se sabe por quanto tempo mais; em frente a ela, foi construída a nova estação, prevista para substituir a estação central de Campo Grande, desativada com a retirada dos trilhos em agosto de 2004.

Somente em meados de 2009 ela foi reformada para se tornar a estação de saída do novo trem do pantanal, turístico, operado pela serra verde. Aliás, a variante se junta à linha velha exatamente em Indubrasil. Ali era a região industrial da cidade, ainda é, mas hoje existem outras. Os moradores dizem que ainda é um local calmo.

Em setembro de 2014, o trem turístico do Pantanal deixou de sair de Indubrasil, mantendo-se apenas o trecho entre Aquidauana e Miranda. Em maio de 2015, depois de o tráfego pelo trecho até corumbá ser abandonado pela concessionária de cargas (ALL), os trilhos da linha estavam já cobertos de mato e intrafegáveis. A estação, depredada.

Em 30 de junho de 2017, a estação incendiou-se. Suspeita-se de incêndio criminoso, pelo abandono da estação, que vivia com as portas abertas.

Jorge Godoy – ferroviário aposentadoConta com paixão e muito amor, algumas histórias que viveu, durante os 35 anos de trabalho para a NOB.

“Eu vivi a construção destas linhas, eu sorri, eu chorei, eu trabalhei e ainda cuido com muito amor de cada pedaço da minha história. Eu digo que é minha porque as vezes me confundo se estou falando sobre estes caminhos ou sobre mim.”

Seo Jorge fala com muita tristeza, sobre o abandono dos lugares, que um dia foram pivô para a evolução do centro oeste.

“É uma grande perda histórica, quando a gente ignora a estação do trem do pantanal, por exemplo. Dentro do complexo existe o primeiro prédio da estação de Indubrasil, que vocês podem ver, está abandonada. Tudo vai sendo depredado, tudo vai sendo deixado de lado e nós mesmo acabamos por não cuidar daquilo que é um patrimônio histórico-cultural. Né?”

É, Seo Jorge! Confesso que só vim conhecer a estação trem do pantanal, agora, durante a elaboração desta pauta, e entendi melhor toda a história, só quando eu estive ali. Eu quase pude sentir toda a emoção de uma viagem de trem. O que me trazia a realidade eram os estilhaços de vidros caídos ao chão. A vida selvagem tomando conta das rachaduras, tratando de preencher com verde, o buraco escuro que ficou em cada cômodo da primeira estação de Indubrasil.

Após um período áureo da ferrovia, teve início o processo de sucateamento do complexo ferroviário de campo grande com a privatização em 1996.

Seo Jorge, agora aposentado, guarda na memória as lembranças e a habilidade de conhecer cada locomotiva por dentro. 

O que lhe rendeu outro ofício: especialista em restauro de máquinas a vapor.

Saiu de campo grande para Três Lagoas. Foi chamado pela prefeitura de lá para recuperar a Maria Fumaça em 2018. A locomotiva que funcionava a vapor que ficou 40 anos no pátio da ferrovia da NOB de Tres Lagoas. Resistiu ao tempo, aos furtos robustamente.

A locomotiva baldwin locomotive works modelo 405, adquirida nos anos 1930 serviu por quase quatro décadas. Transportava, em sua composição, cargas e passageiros a partir e rumo à três lagoas. As locomotivas à vapor encerram suas atividades em território nacional nos anos 50, substituídas por locomotivas à diesel 

A maria fumaça pode ser visitada permanentemente pelos turistas. Assim como os galpões todos reformados.

Os trilhos e construções permanecem, mesmo com o abandono e sofrendo as consequências da ação do tempo, elas ainda contam a história do nosso Estado.

Que essa matéria consiga mostrar um lado lindo da história da construção de um Estado e que provoque você a uma reflexão sobre o que e sobre como deixar uma história a ser contada.

Parabéns Mato Grosso do Sul, pelos 44 anos de história, de honra, de trabalho e de crescimento. Parabéns aos trabalhadores incansáveis que também ajudaram a construir essa linda vida do Estado.

2 COMENTÁRIOS

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