Horta em formato mandala une sustentabilidade e ressocialização na Penitenciária de Três Lagoas

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Com o objetivo de motivar laborterapia como forma de reinserção social,  vários projetos de humanização e pacificação prisional vêm sendo desenvolvidos na Penitenciária de Segurança Média de Três Lagoas (PSMTL). A mais nova iniciativa é uma horta orgânica do tipo “mandala”, com 600 m². O formato espiral economiza água, trabalha com a diversidade de plantas, aproveita melhor o espaço, usa fertilizantes apenas orgânicos e poupa o solo.

O novo formato de plantio se soma a outra forma de produção do presídio: a horticultura hidropônica, que já é realizada no local desde 2014. “Com esses projetos buscamos unir a ocupação prisional produtiva a alternativas de manejo sustentáveis, frente aos novos consumidores, os capacitando nessas técnicas que podem servir de garantia de renda quando conquistarem a liberdade”, destaca o diretor da penitenciária, Raul Augusto Aparecido Sá Ramalho, citando ainda a piscicultura que foi implantada na unidade no ano passado .

Segundo o  dirigente, a produção das hortas vem sendo destinada para consumo interno da penitenciária, aproximadamente 230 quilos por mês. Além do consumo interno, parte da produção vem sendo destinada ao Hospital Auxiliadora de Três Lagoas, Lar dos Idosos e outras entidades assistenciais, de forma a propiciar “resposta positiva” à sociedade.

Um dos fatores importantes, aponta Raul, é que todos os resíduos orgânicos da penitenciária, até os restos da poda do gramado, são destinados à composteira orgânica, para produção dos húmus para a horta mandala. “É uma maneira de oportunizar meios de humanização ao ambiente prisional, programação pedagógica com estudos de fomento de consciência ecológica, ambiental, economia ao erário público, ressocialização e participação da comunidade prisional”, destaca.

Dentro desse eixo sustentabilidade, o diretor comenta que foi desenvolvido um concurso cultural com os custodiados, organizado pelo setor de educação, com ênfase na conscientização ecológica, envolvendo dejetos dos peixes, piscicultura, coleta seletiva, compostagem e minhocário.

“Toda a produção se baseia em três principais pilares: social, econômico e ambiental, pois para se desenvolver de forma sustentável, uma empresa deve atuar de forma que esses três pilares coexistam e interajam entre si de forma plenamente harmoniosa, e é essa filosofia que implantamos na formação profissional dos internos”, enfatiza Raul, reforçando que os projetos de ressocialização desenvolvidos no presídio são resultado da dedicação conjunta de toda a equipe de servidores.

Assim como na PSMTL, a horticultura está presente em pelo menos outras 19 unidades penais da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), levando ocupação produtiva a  cerca de 130 custodiados. O trabalho representa uma importante ferramenta de incentivo à disciplina dos internos, garantindo remição da pena de homens e mulheres em situação de prisão, e ainda ajuda incrementar a alimentação tanto dentro dos presídios com a servida em entidades sociais, escolas, creches, asilos, hospitais entre outros.

“O cultivo de verduras é garantia não só de trabalho digno e produtivo aos detentos, como também complemento saudável na alimentação servida a quem mais precisa”, afirma o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves.

Hidroponia

A horta hidropônica é outra forma de plantio sustentável desenvolvida na Penitenciária de Segurança Média de Três Lagoas, já realizado há cerca de seis anos. No sistema hidropônico, as hortaliças são imersas numa solução de água contendo os micro e macro nutrientes necessários para o desenvolvimento da planta, livre dos problemas climáticos externos (chuvas, ventos e insolação), de forma a acelerar o crescimento das plantas, com aumento de produtividade e uniformidade na produção, se comparado ao cultivo tradicional. No local, em 400 m² são cultivadas hortaliças como rúcula; almeirão, couve e alfaces crespa, roxa e americana .

No mesmo conceito de sustentabilidade, a estrutura foi montada a partir de materiais reaproveitados para baratear os custos, como canos de PVC recicláveis para baratear o projeto, madeiras de demolição e placas de forro de PVC usados. “Também adequamos um motor de bomba para piscina e registros para a irrigação”, revelou o diretor do presídio, explicando que a orientação técnica é oferecida pelas empresas fornecedoras dos insumos.

Piscicultura

Outro projeto piloto da PSMTL é a piscicultura, que teve início em março do ano passado, com o uso consorciado de técnicas de piscicultura e reaproveitamento dos resíduos orgânicos para horta. A principal característica inovadora consiste no uso/reuso consciente da água, que passa por sistemas de aspiração, filtragem, decantação, recirculação e oxigenação, adaptados com objetos do cotidiano (tambores tipo bombonas), que tornam a produção autossuficiente e biosustentável.

Pelo sistema implantado, os dejetos dos peixes (ricos em amônia e nitratos) são absorvidos pelas plantas aquáticas e horta orgânica, propiciando as trocas de elementos químicos. Assim, essa mesma água retorna para a piscicultura “renovada em oxigênio” e sem impurezas.