Governo dá suporte financeiro para indígenas cursarem Universidade

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Quem for assistir a colação de grau dos formandos de Pedagogia na UEMS (Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul) , no próximo dia 20, com certeza vai perceber que o Estado está desempenhando seu papel de inclusão social. Entre os estudantes, duas indígenas venceram os desafios e vão realizar o  sonho do diploma universitário. No total, doze estudantes indígenas conseguiram concluir o curso superior em 2019, em áreas como História, Ciências Sociais, Direito, Geografia e Letras.

Graças ao benefício do Vale Universidade Indígena (Programa executado e monitorado pela Superintendência de Projetos Especiais (Suproes), vinculada à Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho (Sedhast), os estudantes inscritos no programa recebem uma bolsa no valor de 739,00 reais, depositado em sua conta bancária todos os meses, para custear despesas.

“Este dinheiro me possibilitou estudar com mais tranquilidade, já que não precisei trabalhar durante o curso”, conta Lea Guimarães Quirino, 41 anos, filha de pai indígena Terena da Aldeia Passarinho, em Miranda. O que motivou a futura pedagoga a ingressar na universidade, não é muito diferente de boa parte dos indígenas: a vontade de levar o conhecimento para sua aldeia e fazer uma história diferente dos pais. Por isto a maioria escolhe curso de licenciatura, para retornarem às duas aldeias como professores.

Segundo Estado do País a elaborar plano estadual de políticas para os povos indígenas, MS também foi o segundo a elaborar um plano específico para proteger e promover os direitos da População Indígena (SPPPI), documento redigido em 2018 após o crivo das comunidades de oito etnias. Um marco regulatório, construído com ajuda dos indígenas, que contempla ações em todas as áreas, explicou à época o governador Reinaldo Azambuja.

Programa inclui ajuda financeira e qualificação profissional

A contrapartida do estudante é realizar atividades com carga horária de doze horas semanais, compatível com o horário escolar e na área de estudos do acadêmico. Ele termina a faculdade com a vantagem de já ter passado pela experiência do estágio. O número de indígenas na universidade, no entanto ainda é um desafio. Ela esbarra em questões como dificuldades linguísticas, preconceito e adaptação. “Infelizmente alguns deixam o curso, muitas vezes por dificuldade de locomoção, já que a maioria vive nas aldeias, algumas distantes da capital”, explica Karla Sandim, coordenadora do projeto na Superintendência de Projetos Especiais da Sedhast.

No trabalho de conclusão do curso de Lea, intitulado “O acadêmico indígena no curso de Pedagogia na UEMS Campo Grande – O desafio do acolhimento”, ela relata alguns desafios enfrentados. O ingresso na Universidade é um choque cultural para os indígenas, principalmente pela diferença cultural. “Elas vivem em lugares simples, de cultura e rotinas bem distintas”, explica a técnica responsável pelo programa Vale Indígena, Evelyn Costa de Oliveira.

Acolhimento da UEMS é fundamental para adaptação do estudante

De acordo com a formanda de Pedagogia, Lea Quirino, apesar de velado, o preconceito ao indígena estudante é duplo. “Além da questão de raça, muitos colegas entendem a questão das cotas (instituída em 2004 pelo Conselho Universitário da UEMS, reserva 10% das vagas para indígenas) como privilégio, e não percebem que se trata de uma reparação de uma dívida histórica”, declara.  Felizmente, para Lea e seus colegas, a UEMS tem uma enorme rede de apoio. “O acolhimento feito pelos professores é muito grande”, elogia.

Para ser admitido no Programa Vale Indígena Universidade, o estudante precisa possuir Carteira de Identidade expedida pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e comprovar renda individual igual ou inferior a R$ 1.356,00 mensal não superior a R$ 2.712,00. As inscrições para 2020 estão previstas para iniciar na segunda quinzena de Março. Serão disponibilizadas 50 vagas.