Mãos do campo e das aldeias levam comida sustentável e de qualidade para mesa dos alunos

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A merenda que chega na mesa dos alunos da rede estadual de ensino tem suor, dedicação, esforço e até as lágrimas de agricultores familiares, assentados e indígenas, que com muita dedicação, empenho e força de vontade, produzem e levam comida sustentável e de qualidade para as escolas estaduais de Mato Grosso do Sul.

Janise na sua propriedade em Sidrolândia

Na Rede Estadual 30% dos recursos distribuídos às escolas para compra dos produtos da merenda escolar devem ser gastos com a agricultura familiar. Além de ser uma parceria de sucesso, isto ajuda a fomentar o setor e levar produtos saudáveis para o cardápio dos alunos. São frutas, verduras, derivados do leite e até pães, que são produzidos por este ramo tão importante da sociedade.

Mesmo enfrentando dificuldades e obstáculos pela frente, muitas vezes até com as intempéries do tempo, eles conseguem se organizar e fazer as entregas necessárias de seus produtos abastecendo as escolas estaduais e fazendo parte do “maior restaurante” do Estado, que são as merendas escolares nas 79 cidades.

Janise na sua plantação de alface em Sidrolândia

A agricultora Janize Soares da Silva, de 49 anos, é um dos exemplos deste trabalho de sucesso. Há 22 anos morando no Assentamento Terezinha, em Sidrolândia, faz 15 anos que ela vende suas frutas, verduras e hortaliças para escolas estaduais da cidade. Seus produtos são sustentáveis e sua preocupação é contribuir para que a merenda do aluno seja saudável e de qualidade.

“Sempre tive o cuidado de fazer uma produção saudável, agroecológica, respeitando o meio ambiente. Entrego alface, cheiro verde, couve, cenoura, verduras e frutas para as escolas. Faço entrega sempre na segunda-feira, atendendo sempre o que eles precisam, seguindo o cardápio da merenda”, explicou a agricultora.

Na sua propriedade de 15 hectares, Janize atende as escolas estaduais Sidronio Antunes de Andrade e Kopenoti de Professor Lúcio Dias (aldeia), ambas em Sidrolândia. “A entrega para escolas é meu carro chefe, já que é uma venda garantida, ajuda muito na minha rendam, faz a diferença no final do mês. Já em dezembro começo a plantar culturas, que vou entregar em fevereiro”, contou.

A Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) foi fundamental para ajudar em toda documentação, para ela participar das chamadas públicas. “No dia vou lá pessoalmente. Meu diálogo com os diretores é ótimo, quando temos algum problema ou imprevisto na plantação eles entendem e combinam as entregas para outras datas, até por terem outros fornecedores”.

Para fazer as entregas ela conta com dois colaboradores e o que não vai para as escolas, aproveita para vender nas feiras da cidade. “Minha satisfação é produzir algo saudável que vai chegar para as crianças nas escolas. No próximo ano queremos aumentar a produção e chegar a mais lugares, este é o nosso objetivo”, ponderou.

Mulheres terenas mostram a produção de pães

Mulheres terenas

Um grupo de 11 mulheres terenas, que nasceram e foram criadas na aldeia Bananal, em Aquidauana, mostraram que juntas podem fazer a diferença. Elas se organizaram criaram a “Associação das Mulheres Solidárias Indígenas Terena”, que além de desenvolver ações sociais e de ajuda à comunidade, resolveu produzir pães que são entregues nas escolas estaduais da cidade. Assim elas valorizam a cultura local, se tornam protagonistas das suas histórias e geram renda para suas famílias.

Daniele Luiz de Souza, idealizadora da associação

O trabalho social dentro da aldeia começou há quatro anos e a produção de pães desde 2022. Na casa de uma das integrantes, elas fazem pão francês, pão caseirinho e um pão enriquecido de abóbora, que é colhida na região, e traduz toda cultura e força do povo terena.

“O foco principal das mulheres é a renda, mas o nosso objetivo é também levar proteção, segurança, visibilidade a elas, além de ajudar a quem precisa, trabalhar o social de toda aldeia. No começo houve muita desconfiança, até porque pela cultura terena as mulheres ficam em casa e os homens a frente de tudo, com muitas dificuldades, seguimos em frente e geramos renda extra nas casas”, contou Daniele Luiz de Souza, que é a idealizadora da Associação.

Terenas no processo de produção de pães na aldeia Bananal

Ela explica que a produção é feita na casa da sua mãe, que já tinha alguns equipamentos de panificadora, por já ter trabalhado muito tempo no ramo. As meninas começam a fazer os pães a partir das 16h e seguem até a noite. De manhã bem cedo, eles (pães) estão fresquinhos para seguirem para as creches e às escolas estaduais Felipe Orro e Coronel José Alves Ribeiro (Cejar).

“Começamos a atender as creches quase todo dia com a produção de 67 kg de pães. Teve repercussão muito boa nossos produtos, o que nos deu trabalho dobrado. Hoje minha irmã que faz parte da associação faz a entrega com seu carro nas creches e escolas. São oito mulheres produzindo e mais três ajudando em todo processo”, disse ela.

Ivanilda Pereira é uma das integrantes do grupo e coloca a mão na massa. Ela conta que entrou na associação para melhorar a renda da sua casa. “Entrei para aumentar a renda da minha família, até porque penso muito nos meus filhos. Ajudo a fazer os pães e temos este desafio de aumentar a produção, conseguir novos maquinários e ter um local específico para produzir”, destacou.

Dalila Luiz também faz parte do projeto e sua função tem os entregar os pães até às 7h nas escolas. “Desde pequeno moro na aldeia e minha mãe criou os filhos dela fazendo pães com muito carinho e dedicação. O maquinário que usamos é o dela. Eu faço a entrega com meu carro na cidade e tenho que chegar bem cedinho nas escolas. Este trabalho está ajudando muitas mulheres, aqui na aldeia não tem nenhuma renda, assim elas podem contribuir com o orçamento da família, em um trabalho comunitário”.

O próximo passo deste grupo é ter um local próprio para produção, criar uma padaria comunitária, com mais equipamentos para expandir a produção e assim incluir mais mulheres neste trabalho. Elas pedem apoio e parceria do poder público para que este sonho se torne realidade. Querem ter sua marca própria, e juntar a cultura, experiência, tecnologia e inovação, mas acima de tudo coragem para fazer diferente.

 “Vamos correr atrás deste sonho (padaria comunitária), o trabalho não pode parar. Junto iremos ampliar nossas capacitações, para que além das escolas, levar nossos produtos a empresas, mercados e comércio em geral. Principalmente nossos produtos com diferenciais da nossa cultura. Não queremos o espaço de ninguém, apenas o nosso e vamos crescer juntas”, destacou Daniele Souza.