Algumas horas de viagem em solo com paisagens diversas ajudam a inspirar quem aqui chega com a expectativa de encontrar um ambiente diferente e cheio de conceitos sendo tirados do papel, do mundo das ideias, e colocados em prática. Bonito nesta semana além da ‘capital do turismo’ é o berço da cultura, cidadania e sustentabilidade sul-mato-grossense. O eixo responsável por toda a transversalidade inerente à situação é um dos mais tradicionais eventos de Mato Grosso do Sul: o Festival de Inverno de Bonito, que em 2023 chega com a pegada verde quebrando paradigmas e como carro-chefe de todo um trabalho, com um diferencial que chama a atenção: estruturas de bambu substituem estruturas de aço.
Sob a luz da lua e de lâmpadas coloridas, o bambu mostra seu vigor e sustenta a estrutura do túnel montado para receber quem chega a Bonito, abrindo caminho para as mais diversas atrações fixadas na Praça da Liberdade e redondezas. Este mesmo túnel é que faz a ligação entre os dois corações do evento: a praça e o palco principal, onde ocorrem os shows principais diários.
Acompanhado de um coreto, também de bambu, a estrutura é uma amostra da ideia de sustentabilidade que o festival de 2023 traz para o público. “Ser sustentável hoje é uma premissa no mundo que a gente vive. A gente vê os efeitos climáticos hoje e a tendência é piorar, então essa consciência é fundamental em um evento que tem esse potencial de atingir tantas pessoas de uma vez só, pessoas imersas e abertas às experiências do evento”, frisa Liano Dornelles, da Surya Eco&Art.
Em 13 anos de atividades Liano ainda percebe um crescimento de demanda, que tende a aumentar ainda mais com a expansão não só de mercado, mas da ideia de sustentabilidade. “Há quem ache a que o bambu é uma praga, mas é uma planta que algumas espécies tem resistência maior que a do aço, e são totalmente renováveis, ocupam pouco espaço e quanto mais você corta, mais nasce”.
O sustentável também mora nos detalhes
Mesmo nas estruturas tradicionais e que ainda não podem ser substituídas pelo bambu em eventos como festivais, que exigem montagem e desmontagem em curto espaço de tempo, a sustentabilidade se apresenta em detalhes que no final fazem grande diferença, como as decorações de palco, balcões, painéis, portais, entre outros itens presentes no festival.
“Os detalhes também contam, mesmo em uma tenda de metal, que hoje o bambu não atende a demanda e necessidade, a sustentabilidade está presente em pequenas coisas. São detalhes que aliados a uma prática geral já abre a cabeça do pessoal”, explica Liano, completando que todo o material ali será reaproveitado, seja com doações na região de Bonito ou outros parceiros.
Nascida e criada em Bonito, Maria Geller não esconde o encanto com tudo o que foi montado em Bonito para mais uma edição do Festival de Inverno. “Está tudo lindo, maravilhoso. Parabéns a todos pelo trabalho realizado, está nota 10. É importante usar o festival para difundir não só a cultura, mas também a sustentabilidade e a cidadania, incluindo as crianças. Merecemos isso”.
Uma ação que faz a roda girar
Um projeto de educação ambiental que transforma resíduos, lixo plástico, em esculturas. “Nosso trabalho é gerar visibilidade e renda extra a profissionais da coleta seletiva. Além da coleta, a gente incentiva a benfeitoria desse material, agregando valor ao plástico e trazendo mais renda para essas pessoas”, explica Lula Duffrayee, artista plástico dos Pirilampos do Planeta.
Hoje, cerca de 100 pessoas estão envolvidas nesse processo, que começa com três cooperativas de catadores no Rio de Janeiro (RJ), base dos Pirilampos, termina com a criação dos materiais que são expostos em eventos diversos pelo Brasil e nesta semana estão em Bonito.
“Depois da coleta, começa onde entra a arte contemporânea com a assemblagem – arte feita com materiais tridimensionais. Misturamos elementos para criar novos elementos, fazemos o lixo criar outros significados”, conta Duffraye, que há um ano roda o país com o projeto.
As possibilidades de criação ao unir arte e sustentabilidade são amplas, como os Pirilampos mostram. “O nosso conceito é de que luxo é cuidar de quem cuida do planeta. Pegamos materiais considerados lixo, mostramos que não é lixo e devolvemos em forma de arte”, diz Lula.
“Tocamos no emocional das pessoas. Percebemos que primeiro elas se aproximam por causa das cores, da iluminação que usamos, não identificam aquilo como lixo. Mas quando chegam bem perto e observam que foi feito de lixo, pegamos ali a pessoa pelo emocional. Hoje menos de 3% do lixo que pode ser reaproveitado é reciclado. Conscientizamos as pessoas disso, mostramos que lixo é dinheiro, não reciclá-lo é desperdício. Isso muda a vida de muitas pessoas”, conclui o artista plástico.
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