Os traços de jenipapo no rosto de Benilda vão além da maquiagem. São contornos que celebram conquistas e evocam a ancestralidade do povo kadiwéu. No caso dela, o grafismo estampado na face significa a comemoração da mulher indígena ocupando espaços.
Kadiwéu, Benilda Vergílio tem 35 anos, é artista, designer, professora, empreendedora e mestranda em Antropologia Social pela UFMS. Nascida na aldeia Alves de Barros, região de Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, mora em contexto urbano desde a 5ª série do Ensino Fundamental, quando precisou “vir para a cidade estudar”.
O estudo continuou em Aquidauana até Benilda iniciar o curso de Design na UCDB, em Campo Grande. Hoje ela pesquisa a relação da moda com os grafismos indígenas kadiwéu, no mestrado, também na Capital.
‘Cada povo tem sua especificidade’
A frase lançada por Benilda explica muito sobre os povos indígenas e, mais ainda, quanto ao delineado na face.
“O grafismo kadiwéu significa uma celebração, quando se conquista algo, algum território. Nós sabemos que o povo kadiwéu tem 538 mil hectares de terra, e todos estes traços têm a ver com a questão ambiental e a conquista do seu território”, ensina.
Por terem defendido o Brasil na Guerra do Paraguai, ficaram conhecidos como indígenas cavaleiros, ao dominar arco e flecha em cima do cavalo. Os grafismos também são marcas do povo que pinta o corpo e a cerâmica.
Em Mato Grosso do Sul, o povo kadiwéu está dividido em seis aldeias: Córrego do Outro, Alves de Barros, São João, Tomazia e Barro Preto, que pertencem ao município de Porto Murtinho; e a aldeia Campina, localizada na região de Bodoquena. A estimativa é de que a população kadiwéu seja em torno de 3 mil pessoas.
Conquista
Em 2023, a mistura de jenipapo e cal, elementos da natureza, no rosto de Benilda é a celebração de uma conquista não só dela, mas coletiva, representando todos os indígenas.
“É a primeira vez que venho me juntar às pessoas que estão em busca de ocupação, de espaço, na defesa de seus povos e, faço este desenho para marcar presença, dizer que estamos vivos”, ressalta.
Benilda hoje está na Subsecretaria de Políticas Públicas para os Povos Originários, ligada à Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania) levando a arte kadiwéu e oficinas para escolas e comunidades, espaço este que ela diz já ter sido aberto pelos ancestrais.
“Cada mulher dentro da comunidade tem a sua história, minha avó, minhas tias já abriram este espaço e hoje estão na aldeia, mas tem as mulheres que precisam sair e buscar políticas públicas básicas, os direitos. Eu levo arte kadiwéu e falo sobre como indigena é tratado e como a gente quer ser tratado. Este espaço não está dando voz só para a Benilda, mas para um coletivo”.
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