Além dos mapas na TV: meteorologia é ciência que subsidia até decretos

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“Agora, a previsão do tempo”. O chamado do apresentador do telejornal faz parte do dia a dia de quase todos, alertando para um dos momentos mais esperados para os que querem saber se devem ou não preparar o guarda-chuva para o dia seguinte. Mas além de saber se o amanhã será de sol forte ou de chuva torrencial, a meteorologia está no cotidiano da sociedade ao auxiliar no planejamento das diversas ações, estatais ou não.

Ontem, 23 de março, foi o Dia Mundial da Meteorologia, atividade que dá subsídio para decisões nas áreas de gestão, meio ambiente, segurança pública, infraestrutura e até saúde pública. Em Mato Grosso do Sul, esse material é coletado, estudado e elaborado pelos profissionais do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima).

“Não existe previsão do tempo feita por meteorologista que vai lá fora e olha para o céu. Isso não existe mais. Temos a tecnologia que está aí para nos auxiliar, claro, com suas limitações”, destaca o meteorologista Vinicius Sperling, um dos profissionais que atuam no Centro. Valesca Fernandes é a meteorologista que coordena o Cemtec, contando ainda com o assessor técnico Carlos Eduardo Borges Daniel.

Frisando que todo o trabalho feito pela meteorologia se tratam de previsões baseadas em cenários montados em cima de modelos numéricos, Sperling explica que esses cenários são discutidos entre as equipes antes de serem apresentados.

“O que a gente faz muito é a discussão sobre cinco cenários e chega ao consenso. É uma ciência exata, mas que precisa também de uma análise subjetiva, pois temos que pensar em alguns elementos que causam dificuldades e limitações”, destaca.

Uma das dificuldades ainda existentes é a de precisar a quantidade e a localização das chuvas, já que os modelos de hoje trabalham com checagens a cada seis horas, e ocorrências como tempestades podem acontecer dentro dessa janela. “Buscamos então uma solução real para o que está aparecendo”, aponta Vinicius.

Soluções para várias áreas

Uma das áreas que se beneficia dessas soluções é a gestão pública, que conta com o Cemtec para situações como a elaboração de decretos de situação de emergência. “Só na semana passada fizemos mais de 20 laudos para subsidiar esses decretos. No ano passado as situações eram relacionadas à seca, agora são à chuva”, comenta Valesca.

Atualmente são 29 municípios com decreto publicado, sendo dois deles já com o estado reconhecido pelo Governo Federal. Um deles é Ponta Porã, que registrou entre 1º de janeiro e 15 de março 950 mm de chuva, volume maior que o esperado para o semestre.

A coordenadora do Cemtec é enfática ao contar que a coleta diária dos dados obtidos nas estações existentes pelo Estado são fundamentais para o trabalho diário, tanto que existe um compartilhamento de informações entre o órgão e o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). São 17 estações do Estado e 28 federais. A rede no auge da pandemia estava com cobertura de apenas 30%, e em sete meses subiu para 85%.

“Fazemos previsões para ajudar no período de plantio. Temos parceria com a Aprosoja e duas vezes por semana a gente faz essa previsão, além de monitorar e acompanhando quando tem tempestade chegando. Aí é um trabalho não tão específico para a produção, mas que foca na sociedade em geral e nos alertas às coordenadorias de Defesa Civil”, diz a meteorologista, que é acrescida por Sperling.

“Quando você sai de um período seco e onde começam às chuvas, em outubro, novembro, dezembro, é muito importante para os produtores saberem quando vai começar esse período de fato, para não plantar com o solo ainda sem condições ideais. Por isso calibramos esses modelos e damos os panoramas por região”.

Tecnologia avança

O avanço recente da tecnologia só vem beneficiando a meteorologia, ainda mais agora em época de intempéries extremas. A melhora ficou mais sensível, explica Vinicius, com a mudança das aferições do satélite GOES-13 para o GOES-16, em 2017.

“Agora temos imagens a cada 10 minutos e, se houver algum furacão ou algo específico, apenas um módulo desse satélite foca nessa evento e seguimos tendo imagens de toda América do Sul a cada 10 minutos. Antes, se tivesse um furacão lá nos Estados Unidos, e uma tempestade de uma hora aqui, a gente não conseguia ver”, conta Vinicius.

Outro instrumento que auxilia no trabalho fica em Jaraguari, onde um radar capta e afere toda a chuva. Também há um mapeamento capaz de entregar a cada hora todas as variáveis nas estações espalhadas pelo território sul-mato-grossense.

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