Espaço para mulheres no judô cresce além do tatame e chega a funções de decisão

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Unindo força e técnica à mentalidade de vencedoras, mulheres conquistaram seu espaço sobre o dojô, em especial no Brasil. Com a mesma disposição, agora é a vez da conquista de espaço além do tatame, em funções onde os homens ainda são maioria, mas cada vez mais caminhos são abertos para que as mulheres trilhem sua história.

Mato Grosso do Sul recebeu no sábado (4) e domingo (5) passado a primeira etapa de 2023 do Meeting Nacional de Judô Sub-18 e Sub-21, realizado em Campo Grande, no ginásio Guanandizão. O evento contou com a presença da nata da modalidade brasileira, rendendo medalhas de ouro, prata e bronze para o Estado – coincidentemente, o ouro e a prata foram premiações garantidas por judocas mulheres.

Contudo, o trabalho para que os resultados dentro do tatame se efetivem é precedido por uma rotina onde os treinos comandados por mulheres e atividades de arbitragem e gerência ainda são uma minoria, mas tendem a aumentar daqui em diante.

“Existe uma política implementada na CBJ (Confederação Brasileira de Judô) sobre isso, e estamos formando uma comissão para debater essa questão da equidade de gênero, para tentar regulamentar a participação de mulheres árbitras dentro de uma proporção que se torne obrigatória”, destaca a gerente de competições da CBJ, Thiara Bertoli.

Em consonância com ações como a tomada pela CBJ, que organizou o meeting e recebeu o apoio do Governo de Mato Grosso do Sul para isso, através da Fundesporte (Fundação do Desporto e Lazer), em breve a Subsecretária de Estado de Políticas para Mulheres da Setescc (Secretaria de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania) deve implantar um programa para também valorizar as mulheres nessas funções.

“É uma iniciativa espetacular para o esporte em geral, não só o judô, e só assim o objetivo de maior igualdade pode ser alcançado”, frisa Thiara, acrescentando ainda que hoje a CBJ bonifica com mais vagas as federações que indiquem mulheres para comandar as equipes nas competições nacionais, estimulando a participação feminina.

Inclusão é pauta prioritária em MS

A ideia do programa de valorização feminina nos esportes em Mato Grosso do Sul partir da Subsecretaria de Políticas para Mulheres ao invés da pasta ligada diretamente ao esporte remete ao conceito de tornar a gestão pública, responsável pelas políticas de Estado, mais transversal, com as áreas conversando entre si.

“Quando criamos a Setescc com essa gama de temáticas, a ideia foi justamente trabalhar a transversalidade que está no cerne da nova gestão. Não há mais uma área isolada da outra, todas tem que conversar uma com a outra. Esse programa será isso, a Cidadania conversando com o Esporte”, explica o titular da Setescc, Marcelo Miranda.

Quem fala sobre as oportunidades que podem se abrir com a adoção de políticas efetivas para a inclusão e fortalecimento das mulheres em funções decisivas do esporte é Edna Pioker de Lima, árbitra continental e que atuou no meeting do fim de semana.

“Hoje a situação está mais aberta devido a ações como essas. Há 25 anos quando comecei o retrato era diferente e existiam muitas barreiras. Naquela época era raro mulheres no judô, e haviam entraves políticos para nos desenvolvermos. O leque está cada vez mais se abrindo e aparecendo oportunidades”, destaca a árbitra, revelando ainda que uma das barreiras é conseguir conciliar a jornada no judô com a de casa.

Mundo masculino, mas se transformando

O ambiente do judô ainda é visto como um “mundo masculino” pela treinadora Kely Yada, da Associação Yada de Judô, em Itaporã. “Minha história é um tanto quanto inusitada, já que comecei no judô adulta, já tinha até filho com quatro anos. Minha família se apaixonou pelo judô e estamos ali há 16 anos”, conta, completando.

“Hoje eu, meu esposo e meu filho somos senseis. O fato de ser mulher sempre tornou mais difícil, pois o judô ainda é muito masculino, e isso traz um sentimento de frustação às vezes. Mas existe uma estrutura que me abraçou, e consigo me sentir mais confortável para continuar”, ressalta Kely. O caminho para tornar o ‘mundo do judô’ um espaço mais apto a todos os gêneros é justamente a adoção de políticas públicas para isso.