Enquanto o Paraguai avança pelo Chaco com obras estruturantes – foi licitada o último trecho a ser pavimentado da Ruta 15, de 220 km, que interligará as fronteiras com o Brasil e a Argentina – a estratégica localização de Porto Murtinho como eixo central da Rota Bioceânica (Atlântico-Pacífico) vai gerar um novo ciclo de desenvolvimento em uma cidade que já teve seu boom econômico, como o período da erva-mate (até meados do século XX).
Acompanhando o grupo de trabalho do ambicioso projeto de integração oceânica na parte de governança, com envolvimento de todos os atores públicos e privados dos quatro países (Brasil, Paraguai, Argentina e Chile), o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) desenha para Porto Murtinho um cenário transformador, a médio prazo. A cidade fronteiriça, que passou pelo isolamento no extremo sudoeste do Estado, se reerguerá como hub logístico.
“Na realidade, o Brasil foi quase uma ilha descolada dos seus vizinhos e Porto Murtinho estava no final do caminho, posição que hoje se reverte, com esse corredor, e surge uma cidade articuladora, com uma logística multimodal (hidrovia e rodovia) de grande atratividade”, analisa o pesquisador do Ipea, Pedro da Silva Barros. “Ou seja, de periférica, Porto Murtinho ganha uma posição de destaque, como centro de distribuição de cargas.”
Em conversa com o prefeito murtinhense Nelson Cintra, o pesquisador tomou conhecimento das ações que estão sendo desenvolvidas na sua gestão para preparar o município para o desenvolvimento. Cintra falou da parceria do governo estadual e da bancada federal para planejar e estruturar a cidade, ressaltando que os investimentos somam mais de 35 milhões de dólares. “O governador Reinaldo Azambuja abriu as portas para Murtinho”, disse.
Conhecer para integrar
Para que a cidade e toda a região no entorno do corredor absorvam e se beneficiem das múltiplas oportunidades que surgirão, em todas as áreas, é preciso se estruturar e entender na prática o que representa esse novo caminho de integração, segundo o pesquisador. A presença de onze prefeitos de Mato Grosso do Sul no Fórum Internacional do Corredor Bioceânico, realizado em Antofagasta (Chile), demonstra esse envolvimento regional.
“É preciso saber utilizar bem essa oportunidade imensa que se projeta e a participação dos prefeitos e outros atores nesse fórum foi de extrema importância, além do fato de terem vindo por terra conhecendo todo o trajeto, desde a fronteira com o Paraguai. Para integrar, na prática, tem que conhecer os vizinhos. Foi uma semana produtiva em Antogafasta e, com certeza, estamos conhecendo melhor os nossos vizinhos”, disse Pedro Barros.
Diagnósticos do Ipea apontam um leque de possibilidades de crescimento mercadológico, além da competitividade dos produtos brasileiros com a redução dos custos de transporte, classificando o acesso a um mercado regional como uma porta mais acessível às pequenas e médias empresas que queiram se internacionalizar. Nesse cenário, o pesquisador destaca a posição do governo de Mato Grosso do Sul de estar atento às dinâmicas do novo corredor.
“O desafio para Porto Murtinho, nesse momento, é manter as externalidades positivas gerados pela construção da ponte (sobre o Rio Paraguai) e os acessos, que já movimentam a economia, e aproveitar as oportunidades comerciais que advirão com o fluxo de cargas e pessoas, que serão muito maiores”, avalia. “Tem o potencial turístico e o logístico, com os terminais portuários e o porto seco, e instalação de empresas visando novos mercados.”
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