Alunos com mais de nove horas diárias de atividade escolar, pais satisfeitos com um modelo de educação que prepara o jovem para o futuro e um time de professores conselheiros dos estudantes são elementos que moldam o sucesso das escolas estaduais de tempo integral em Mato Grosso do Sul.
Com um currículo que trabalha aptidões individuais e incentiva o protagonismo juvenil, o modelo de ensino surgiu na rede estadual em 2016, com cinco escolas em Campo Grande, e cresceu 2.250% em seis anos, passando para 131 colégios em todo Estado. O formato tem atraído cada vez mais jovens, que se dizem confiantes com as oportunidades que terão pela frente.
Quando pertencia a uma escola regular, a garota conta que ficava distraída no período em que não estudava. “Eu brincava mais. Fazia as tarefas, mas era dispersa. Quando entrei aqui foi bem puxado, mas consegui melhorar meu rendimento e me concentrar melhor, subir minhas notas e evoluir”, fala ela, que quer ser psicóloga ou biomédica.
A mãe de Victória, Leide Daiana, 36, confirma a transformação da filha. “Um crescimento gigantesco. Coloquei ela nessa escola e não me arrependo. Eles têm um cuidado de família. Todos os alunos daqui têm visão diferente, pensam lá na frente”, conta a representante comercial. Para ela, essa condição traz tranquilidade. “Algumas pessoas não têm conhecimento da escola integral, acham que os filhos ficam presos, mas não… para quem trabalha e tem o dia corrido, vale a pena. Os professores são incríveis. É melhor do que estar na rua ou dentro de casa vendo o que não deve”, fala.
Richard diz que as dificuldades percebidas ao mudar o tipo de ensino foram superadas e transformadas em motivação. “Além do vestibular e do Enem, também conhecemos o empreendedorismo e o ensino técnico. Temos várias opções”, revela ele, que está no 2º ano do ensino médio na Escola Neyder Suelly e tem vontade de cursar Direito.
Modelo que “veio para ficar”
Pais de Guilherme Henrique, 16, estudante da EE Emygidio Campos Vidal, em Campo Grande, o aposentado Gonçalo Granville, 59, e a vendedora Carminha Cruz, 41, acreditam no potencial do ensino integral. “É um modelo que veio para ficar e vai evoluir nossa sociedade, em termos de conhecimento e cultura”, afirma o homem. “A escola é vida. Os alunos aprendem, se preparam e comem bem, do café da manhã até o almoço e o lanche. É muito bom”, completa a mulher.
As provas que avaliam a qualidade da educação no Brasil confirmam a afirmação de Guilherme. Na edição mais recente do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), as escolas de ensino médio em tempo integral da rede estadual tiveram melhor desempenho. Enquanto o índice das escolas regulares foi de 4,2, a nota das integrais foi fixada em 4,7, uma diferença de meio ponto que “faz a diferença”, na avaliação da chefe da Secretaria Estadual de Educação (SED), Professora Cecília.
“As escolas de tempo integral possuem características que influenciam no resultado final do Ideb. Elas conseguem, através de uma dinâmica específica e de um currículo elaborado, fazer com que o estudante fique na escola, gerando um incentivo na permanência. Isso incide diretamente nos índices de abandono, evasão e reprovação, refletindo no fluxo, que é uma das bases para a nota de avaliação do Ideb. Outro ponto é que por conta de uma maior carga de unidades voltadas para Português e Matemática, existe um reflexo no desempenho de proficiência. Com mais tempo para o aprendizado, o aluno tem melhor desempenho nas avaliações”, explica a secretária.
No Estado, as cinco melhores notas do Índice foram das escolas estaduais Professor Severino de Queiroz, de Campo Grande, com 5,5; Professora Nair Palácio de Souza, de Nova Andradina, com 5,3; Waldemir Barros da Silva, da Capital, com 4,9; Viriato Baeira, de Coxim, com 4,8; e Vespasiano Martins, também de Campo Grande, com 4,5.
Defensor do modelo de escola em tempo integral, o governador Reinaldo Azambuja foi um dos responsáveis por implementar esse formato de educação em Mato Grosso do Sul. “Escolas modernizadas, bem equipadas e com ensino em tempo integral geram um bom ambiente para o aprendizado. O investimento na educação em nosso governo é uma realidade e vamos ampliar o número de escolas em tempo integral na rede para melhorar, cada vez mais, os índices de ensino dos nossos alunos”, ressalta.
Nos planos da SED, a expectativa é ativar mais 44 escolas de tempo integral em Mato Grosso do Sul já em 2023, chegando a 175 unidades escolares ofertando o modelo de ensino em benefício de até 31 mil alunos.
A bibliotecária Kelly Cristina de Souza, 44, mãe de Arthur Vinícius, 16, que também está no 2º ano da Escola Emygidio, reflete que escola pública de ensino integral tem a mesma qualidade do ensino privado. “Eu nunca pensei em colocar meu filho em uma escola particular. Eu sempre acreditei no ensino da escola pública porque penso que escola, família e aluno são três pilares conjuntos que fazem com que o objetivo seja alcançado. E o objetivo do Arthur é a faculdade de medicina”, conta.
Importando alunos
Nascido e criado na zona leste da cidade de São Paulo, o vendedor Wagner Xavier, 42, chegou há sete meses em Campo Grande. Ele veio acompanhado da família para trabalhar e a decisão da mudança foi tomada depois de saber da qualidade do ensino ofertado pelas escolas de tempo integral de Mato Grosso do Sul. “Meu primo mora aqui há muitos anos e ele sempre falou dos estudos do filho dele nesta escola (Waldemir Barros da Silva). O que chamou a atenção foi o ensino. São Paulo é uma capital muito grande e a atenção não é tanto dentro da sala de aula”, fala o homem, que é pai da jovemEmyly Xavier, 16, que está no 1º ano do ensino médio.
A garota explica que esta é a primeira vez na vida que estuda em tempo integral e que a experiência está sendo positiva. “Está me abrindo muitas ideias e sendo interessante, pois vem me ajudando em várias questões, tanto particulares quanto escolares. Aqui eu tenho acesso a toda questão do itinerário formativo, que é o profissional e tudo mais que direciona a gente para um caminho. Comecei a gostar muito de informática e vi que é uma área grande que quero seguir. É uma coisa que eu nunca tinha pensado em fazer, mas a escola me fez enxergar. E os professores vão te incentivando cada vez mais a se descobrir e descobrir as oportunidades que a escola vai te oferecendo”, avalia.
A jovem diz ainda estar “realizada” com a nova escola. “Onde eu estudava antes não tinha toda essa visão que eu tenho agora. Os professores estão sempre com a gente. Mais do que profissionais são nossos amigos e estão sempre nos acolhendo. Eu me sinto feliz de estar aqui tendo todas essas oportunidades”, afirma.
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