Em meio às reclamações, simpatia e educação se tornam raridade entre motoristas

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Quem está acostumado a ser passageiro dos motoristas de aplicativos tem diversas reclamações para contar e sabe as dificuldades cada vez maiores de conseguir um carro, principalmente com a proposta inicial: educação, conforto, rapidez, bala, água, entre outros produtos sugeridos. Nesse mundo corrido que se destaca José Erivaldo Souza Vieira Santana, 53 anos, o Seo José.

Há cinco anos trabalhando como motorista de aplicativo, Seo José acumula mais de três mil corridas e só parou durante os primeiros quinze dias de lockdown em 2020. Sem perder a identidade, ele carrega água, bala, brinquedo para crianças, álcool em gel, linhas e agulhas, papel toalha, lenços de papel e internet grátis.

Antes de ser motorista ele já trabalhava com público e afirma que essa é sua vocação. “Eu trabalhei 17 anos como garçom, só sai porque a empresa fechou. Eu gosto de fazer atendimento, lógico que a gente não consegue agradar a todos, mas o atendimento é tudo!”.

Sobre os mimos que mantém no carro ele confirma que é possível, mesmo com o aumento do combustível e a porcentagem que o aplicativo consome por corrida. Atendendo uma média de 50 passageiros por dia, ele ressalta que nem tudo são flores. “Não é impossível, mas é difícil. Muitos não valorizam. Têm pessoas que veem a bala e não sabem comer uma, quer duas, três e levar pra casa. Aí muitos motoristas tiram. O comportamento dos passageiros também influencia na dedicação do motorista!”.

Seo José sente falta do bom senso de alguns clientes, mas não é do embate. Ele prefere ver o cliente feliz e ter a certeza que fez um bom trabalho. “Entra criança e come tudo (as balas), não é proibido! Mas tinha que ter consciência, os pais não falam nada. Eu não falo nada, deixo comer para ela ficar feliz!”.

Sobre os gastos com os produtos que oferece, ele garante que é um investimento e tem retorno. “Pra mim, graças a Deus, as pessoas deixam bastante caixinha, compro bala, álcool, lixa de unha. Vou ganhar e vou distribuir um pouco. Pego o dinheiro da caixinha e compro as coisas”, destaca.

Com mais de 30 anos de trabalho prestado, Seo José pretende aposentar, mas não se vê longe do atendimento ao público. “Trabalho das 7h às 19h, faço 40 minutos de almoço. Não paro, não parei na pandemia. Tinha gente que entrava gripado, com tosse e não peguei o coronavírus. Eu pretendo me aposentar, tenho MEI e contribui por muito anos, falta pouco. Mas aqui eu converso, a língua foi feita para conversar e deixa a viagem mais rápida. Estamos vivos e temos que aproveitar cada segundo”, aconselha Seo José