Pelo preconceito sofrido, homem abre empresa que valoriza LGBTQIA+ na capital

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imagem internet

Uma pesquisa chamada Viver em São Paulo: Direitos LGBTQIA+, realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o IPEC – Inteligência em Pesquisa e Consultoria, aborda questões como percepção da tolerância com a população LGBTQIA+ na cidade, atuação da administração municipal no combate à violência contra esta população, impacto da pandemia do coronavírus na saúde mental, entre outras.

Nesta pesquisa a TV e internet são as fontes mais utilizadas para se informar sobre os direitos da população LGBTQIA+: 33% declaram se informar pela televisão; 32% por sites de notícias e portais; e 31% por mídias sociais.

Também para a maioria a administração municipal faz pouco (52%) ou nada (19%) no combate a violência contra pessoas LGBTQIA+.

Ademais, 59% sofreram ou presenciaram pelo menos uma situação de preconceito em função da orientação sexual ou identidade de gênero. Entre quem sofreu ou presenciou ao menos uma das situações de preconceito listadas na pesquisa, destaca-se quem se declara não heterossexual e quem acredita que a gestão atual tem feito pouco ou nada para combater a violência contra pessoas LGBTQIA+.

Já entre os 31% que não sofreram ou presenciaram situações de preconceito em função de orientação sexual ou identidade de gênero, destaca-se quem se autodeclara da cor branca, quem se declara heterossexual e os homens cisgênero.

Os espaços públicos são os locais de maior vulnerabilidade para as pessoas LGBTQIA+, sendo apontado por 48% como local que sofreu ou presenciou alguma situação de preconceito em função da orientação sexual ou identidade de gênero. O transporte público é apontado por 41%; escola ou faculdade por 38%; bares e restaurantes por 37%; trabalho por 36%; família por 35%; e banheiro público e de estabelecimentos privados por 30%.

Carlos Eduardo Rodrigues Lubacheski (arquivo pessoal)

O número de pessoas que consideram muito importante a elaboração e implementação de políticas públicas que promovam a igualdade de direitos para a população LGBTQIA+ aumentou em relação a última edição da pesquisa, realizada em 2019, de 60% para 68%.

No dicionário a palavra oportunidade significa: circunstância oportuna, favorável para a realização de algo.

Voltando a ótima para Mato Grosso do Sul, a gente percebe que essa pesquisa também revela muito sobre um estado predominantemente machista e preconceituoso. Tendo em vista que, pelos dados encontrados, nada há de informações sobre pesquisas ou inciativas relevantes aqui.

Pensando nisso, a equipe do MS na Mídia foi atrás de histórias e nos deparamos com a de Carlos Eduardo Rodrigues Lubacheski, homem trans, 30 anos, empreendedor, que durante a busca por um emprego, foi o período em que mais ouviu “não”.  Por muitas vezes, as vagas que ele se interessava eram destinadas para homens e como nos documentos ainda tinha o nome de registro, sempre ouvia “entraremos em contato”.

Aos poucos a história de Carlos ganhou outro caminho, mas ele acredita que há muito ainda para mudar, até mesmo porque diferente dele, há quem ainda está esperando alguma porta abrir.

(Arquivo pessoal)

Após um tempo desempregado, Carlos Eduardo encontrou na única vaga de emprego disponível, uma paixão e que logo se transformaria – mudar a realidade de pessoas trans.

Depois de muita procura, ele achou seu lugar. Foi em um PET SHOP que ele começou a carreira de Groomer, mas, mesmo achando seu caminho ele teve de conviver com piadas de mal gosto. “Já me falaram que ele não era nem gente. (Filho de um patrão)”.

A inciativa partiu daí! Carlos abriu um pet shop. O empresário teve um período de transição bem difícil, primeiro teve que se entender, aceitar, depois encarar os olhares.

 “Foi difícil para os meus pais aceitarem aos 14 anos como mulher lésbica”, recorda com a voz embargada. “A sociedade tem preconceito e tem 2 tipos de tratamentos ruins; por maldade e por ignorância das pessoas”

Ele entende que as oportunidades são as mais difíceis e cita que 1 homem trans e 3 meninas trans já trabalharam com ele. “Elas tinham dificuldade de conseguir trabalho. Os clientes não deixaram de vir para o espaço porque sempre prestamos um serviço de muita qualidade e respeito com os animais e os seus tutores”

Ele se emociona ao falar que os trabalhadores têm famílias e precisam de trabalho. “Eles precisam mostrar que fazem mais e isso pra ter o reconhecimento como qualquer outra pessoa comum teria”.

Carlos e Thales (arquivo pessoal)

“Nosso estado é machista e misógino, o foco são as meninas – os homens são mais aceitos e o empresário sabe bem que para mudar a realidade, as atitudes precisam partir do empregador.” Sua consciência não vem por somente por ele ser um homem trans, mas também por ser um humano que convive em sociedade e sabe respeitar as diferenças.

Promover campanhas de conscientização e inclusão, aumentar as penas contra quem pratica atos discriminatórios contra a população LGBTQIA+ e ampliar os serviços de proteção à população LGBTQIA+ em situação de violência são apontadas como as políticas públicas mais efetivas para a promoção da igualdade de direitos para as pessoas LGBTQIA+, sendo mencionadas por 37%, 35% e 29% respectivamente.

A falta de contato com a rede de apoio e o maior convívio com familiares preconceituosos são os considerados os fatores que mais contribuem para desencadear ou agravar problemas de saúde mental nas pessoas LGBTQIA+, sendo apontados por 48% e 45% respectivamente.

A pesquisa foi realizada entre os dias 12 e 29 de abril de 2021. Foram 800 entrevistas com pessoas maiores de 16 anos que moram na cidade de São Paulo.

Para além disso, 70% da população transexual paulistana é feminina e 57% é negra, o que significa que a marginalização relacionada à orientação sexual é um ponto de intersecção com outras condições de vulnerabilidade, como gênero e raça.

Hoje, Carlos se aceita, se respeita e ainda dá oportunidades a todos os gêneros. Curtiu a história dele? Acompanhe a Pet In House no instagram e apoie a causa LGBTQIA+!