Inaugurado em 2013, atendendo 30 pessoas com deficiência em situação de dependência e suas famílias, o Centro Dia de Referência para Pessoas com Deficiência, unidade vinculada à Secretaria Municipal de Assistência Social, acompanha atualmente 82 famílias com uma equipe multiprofissional que oferta orientações, encaminhamentos para outros serviços e cuidados pessoais que visam promover a qualidade de vida, autonomia e independência.
Para praticamente triplicar os atendimentos, a Prefeitura de Campo Grande mudou o endereço. O Centro Dia que ficava na Av. Mato Grosso foi para a Rua Quintino Bocaiuva, na TV Morena. O endereço foi escolhido a dedo para que pudessem estar mais perto da CER/APAE, que é uma unidade de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento de pessoas com deficiência. A parceria garante serviços que a rede da assistência social não oferece.
A equipe multidisciplinar do Centro Dia que conta com psicólogas, assistente social e terapeuta ocupacional faz o acompanhamento das famílias e trabalha para garantir o acesso a esses serviços no SUS. Há ainda um serviço de locomoção que busca as pessoas que não tem como ir para a unidade. No começo havia duas Doblôs que levavam 3 pacientes por veículo. Em 2018, a Prefeitura comprovou uma van e hoje transporta até 13 pessoas.
Emerson Martins Julião, que frequenta o espaço desde 2017, conta ter ido para o Centro Dia por indicação de um colega. No início, ele usava o serviço de transporte da unidade. “Ele fazia terapia comigo no CER-APAE e me passou o papel da inscrição. No começo eu estava cadeirante e eles iam me buscar em casa. Mas desde que comecei a frequentar aqui a vida mudou muito. Hoje, eu uso apenas as muletas”, conta Emerson Martins Julião, que tem uma doença rara que começou a se manifestar aos 20 anos. A doença foi se agravando e ele teve um AVC que deixou sequelas. Foi nesta época que veio para Campo Grande.
“Eu morava em São Paulo, aí vim pra cá ficar com minha mãe para fazer o tratamento, porque aqui é muito melhor, lá é tudo longe e caro. Hoje eu moro sozinho, em uma casa adaptada, que fui sorteado pela Prefeitura, no Parque do Sabiá”, conta.
Amigo dele, Carlos Eduardo Rodrigues da Silva conta que a mãe foi quem soube do projeto e o levou. “Eu me adaptei muito rápido aqui, me sinto acolhido. Todos são como uma segunda família. Aqui vi que não era o único que enfrentava esses problemas. Antes eu me sentia isolado, porque quando fiquei cadeirante todos se afastaram de mim. Antes de eu sofrer o acidente eu tinha um grupo de pagode. Gosto muito de música, mas agora quero arrumar um emprego, gostaria que fosse na área de administração. Pretendo fazer um curso de qualificação. Por aqui mesmo, já estão vendo para me encaixar”, revela.
Em parceria com a Fundação Social do Trabalho (Funsat) e também com o Fundo de Apoio à Comunidade (FAC), o Centro Dia busca encaminhar os usuários para o mercado de trabalho. Em parceria passadas já foram disponibilizados cursos de caixinha de MDF, de decupagem, de ponto cruz, de pintura em tela. O objetivo é que as pessoas possam com isso gerar uma renda, trabalhando em casa, podendo se desenvolver e também dar assistência ao familiar.
Coordenadora do Centro Dia, Maísa Reis explica que o serviço Centro Dia é acionado via CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) ou CRAS (Centro de Referência em Assistência Social), ou por demanda espontânea, quando a família vai procurar ajuda no local.
“A equipe faz inicialmente a escuta da família para entender a real demanda daquela família, faz uma visita domiciliar, levanta uma hipótese sobre aquele caso e daí traça um plano de atendimento. Feito esse plano, a pessoa com deficiência vem para o Centro Dia, passa o dia todo aqui. Nós oferecemos o transporte para quem precisa, garantimos que ela tenha acesso a todos os serviços e direitos, desde emissão de documento a ir atrás de beneficio (LOAS), tecnologia assistida, bengala, cadeira de rodas, orientação e encaminhamento. Nós fazemos toda essa ponte entre a família e a garantia desses serviços”, explica.
No período crítico da pandemia houve a necessidade de suspender os atendimentos presenciais e muitos usuários tiveram que se adaptar a rotina de receber os profissionais em casa para a realização das atividades.
Mãe de Amanda, 37 anos, a dona de casa Tereza Armanda Giraldi conta que enfrentou resistência da filha, que pedia para ir à unidade. Segundo ela, além do apoio psicossocial, o carinho e paciência dos profissionais foram fundamentais na adaptação de Amanda à nova realidade, que durou pouco mais de um ano.
Pelo menos uma vez na semana Amanda, que há cinco anos é atendida de forma presencial no Centro, recebia em casa a equipe da unidade para dar continuidade ao trabalho de socialização por meio de atividades de artesanato.
Ela sentia muita falta das pessoas, da convivência, dos amigos e começou a ficar muito agitada, mas aos poucos, com o trabalho da equipe, ela foi se acalmando. Quando era possível, eu saía com ela para comprar material de artesanato para ela voltar a ter contato com as pessoas, mas a saudade do Centro Dia era grande porque lá é uma extensão de nossa casa”, diz a dona de casa.
Tereza conta que as atividades potencializaram a capacidade de concentração de Amanda, que se identificou com os trabalhos manuais e hoje se sente mais produtiva. “Desde que passou a ser atendida no Centro Dia, ela ficou mais calma. Vejo os profissionais como se fossem os tios dela, que cuidam, auxiliam e, com amor, fazem o dia dela se tornar melhor”, pontua.
Na unidade são ofertadas atividades do cotidiano como culinária, cultivo da horta, cuidado com o jardim, artesanato, banho de piscina, atividade de lazer, de exercícios físicos, musicalização e outras. A ideia é dar suporte para que a família tenha condições de manter o vinculo com a pessoa com deficiência, para que não haja rompimento, pois muitas vezes a família tem um vínculo afetivo muito forte, mas não tem condições estruturais de cuidar da pessoa.
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