O espetáculo será apresentado virtualmente pela plataforma Zoom durante todos os finais de semana do mês de agosto.
Com uma dura proposta sobre o palco digital as atrizes, Nilcieni Maciel (Élida) e Nathália Maluf (Ísis) entram em cena e se confrontam em uma relação destrutiva entre mãe e filha em busca de uma liberdade a qual não enxergam. Sala, quarto e banheiro se repetem no cotidiano monótono e exaustivo de uma casa isolada e massacrada pela pandemia. São três gerações dentro de uma casa em isolamento, Élida, Ísis e Aisha. Lá fora, o mundo, não se sabe se segue existindo. Se elas não fossem mulheres poderíamos saber se na parte de dentro estão vivas ou mortas, mas o caminho de uma mulher é sempre incerto, e no coração muitas vezes, carrega uma tragédia. São duas mães, lutando por seus bebês e construindo, aprisionadas, a possibilidade de futuro. CREMA, é um grito de liberdade, de vida e de morte pela luta de um feminino bebê, que tem chances de virar cinzas ou enfrentar o mundo que já acabou.
Para Leonardo de Castro, autor da obra, o texto busca retratar a dor daqueles que sofreram e ainda sofrem com a pandemia em um ensaio de um cenário ainda mais desolado: “Acredito que alcancei meu objetivo até certo ponto, uma vez que precisamos do público para que o teatro seja completo, mas com o trabalho de direção da Lígia, sei que chegamos em lugares mais densos! ”
Para Lígia Prieto, diretora do espetáculo, “Trabalhar a criação da cena a distância, por uma tela, é um desafio, mas ainda assim o teatro acontece. A escuta dentro da construção cênica se faz absolutamente necessária em todos os formatos de um processo artístico, e acredito que essa escuta teve um caminho consistente nesse processo de 10 meses. As atrizes disseram ‘sim’ ao processo desde o início, compondo seus caminhos, aliás toda a equipe disse ‘sim’. Crema é uma construção coletiva e colaborativa, de uma equipe linda, que sou muito grata por ter vivenciado. Agora começaremos as apropriações, com a entrada da plateia, estará completo o abismo do teatro. Que se iniciem os jogos para fazer o mundo rodar. Agora o teatro vai começar, estamos felizes, ansiosos, com medo e cheios de coragem. Entrar em cena a qualquer tempo já é um ato revolucionário, entrar em cena em plena pandemia é muito mais. O teatro não pode parar!”
Com um forte apelo dramático, Crema nos apresenta questões que vão além da pandemia. A maternidade e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres nesse contexto se chocam em um emaranhado complexo de loucura, amor e dever.
Laila Pulchério, produtora do Circo do Mato comenta: “O grupo decidiu por esta montagem no ano passado (2020), quando estávamos discutindo o que gostaríamos de montar para 2021, nesse novo cenário pandêmico tínhamos o desafio de realizar um trabalho virtual. O Circo do Mato tem como prática e opção convidar diretores para seus espetáculos quando não opta em direção coletiva (do próprio grupo), já pensávamos em convidar uma mulher para dirigir um próximo trabalho, a ideia de montagem do Crema coincide com esse desejo, e a Lígia Prieto é uma das mais proeminentes diretoras da cidade. Ficamos muito felizes quando ela aceitou nosso convite! ”
Para o dramaturgo esse olhar foi o “X” da questão na construção da peça: “Quando escrevo me coloco à disposição da luta daqueles que eu não posso representar, mas que eu, enquanto cidadão, preciso enxergar. A Ligia tem todo o lugar de fala que eu precisava para dar vida a este espetáculo, assim como a Nilce e a Nath para estas personagens; a contribuição da Bê Perez para esta obra foi também muito importante. Na verdade, a peça é muito mais delas. Eu escrevi, mas foram elas que criaram! ” Diz Leonardo.
SOBRE O GRUPO: O Circo do Mato tem presença no cenário artístico em Mato Grosso do Sul há mais de 22 anos com espetáculos que misturam as linguagens do teatro e do circo. É um dos grupos mais importantes de artes cênicas do Estado somando participações internacionais e prêmios diversos.
SOBRE O AUTOR: Leonardo de Castro é ator, mestre em Educação e licenciado em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Possui uma premiação nacional em dramaturgia e outra na área de poesia. Além disso desenvolve trabalhos na área de sonoplastia e arte educação.
SOBRE A DIRETORA: Ligia Prieto é atriz, diretora de teatro, poeta e psicanalista e há 7 anos se mantêm como diretora do Grupo Casa – Coletivo de Artistas. Em sua trajetória conta com 20 anos de atuação, direção e formação não só na cena campo-grandense, mas também no RJ e SP.