Depoimento de Amilton Gomes à CPI da Pandemia é marcado por controvérsias

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Imagem internet - o maior erro foi abrir a porta da minha casa num momento que eu estava sofrendo a perda de um ente querido da família e eu queria vacina para o Brasil". "Eu tenho culpa, sim", confessou.

Depois das férias parlamentares, os depoimentos à “CPI da COVID-19” estão nos noticiários outra vez. Essa nova etapa deve focar nas investigações sobre negociações de vacinas envolvendo intermediários.

Na última terça-feira (03), foi a vez do reverendo Amilton Gomes de Paula, fundador da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, considerado peça-chave nesse sentido.

O depoimento, que alongou-se desde pouco antes do meio-dia até quase sete da noite, foi marcado por desconfianças e trocas de versões por parte de Amilton.

Um dos principais questionamentos dos senadores foi como o reverendo, que atua em uma organização humanitária, teve fácil intermediação com o Ministério da Saúde. Ele afirmou que realizou as tratativas por e-mail e que não tem “contatos” dentro do governo, nem com militares, nem com outros servidores da pasta.

Senadores afirmaram que a versão contrasta com a dificuldade de comunicação de organizações como a Pfizer e o Instituto Butantan com o governo federal na tratativa de vacinas. “O senhor está protegendo alguém e ninguém merece ser protegido numa brincadeira dessa”, afirmou o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), em determinado momento.

O reverendo chegou a mudar uma versão de seu depoimento após reportagem revelar e-mails que comprovam que a Senar, entidade chefiada por Amilton, procurou associações de municípios para negociar doses da AstraZeneca. 

Logo no início da oitiva, Amilton Gomes de Paula havia negado que ele e integrantes da entidade dirigida por ele tenham negociado imunizantes com estados e municípios. Depois de ser confrontado pelo conteúdo da reportagem, ele disse aos senadores que teve conhecimento da proposta enviada às cidades e que a iniciativa teria partido de um diretor de sua entidade.

Outra informação contrastada foi a que a Davati Medical Supply, empresa apontada como intermediadora da venda de doses com o Ministério, teria ofertado doses a US$ 11. Segundo a empresa, a única oferta feita foi de US$ 10. 

O depoimento do líder religioso estava previsto para o dia 14 de julho, mas foi adiado por questões de saúde do reverendo. Nesta terça-feira, ele compareceu à CPI amparado por um habeas corpus concedido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux – Amilton de Paula teve direito ao silêncio parcial, ou seja, podia não responder perguntas que o incriminassem.

Por quê? Ao que parece, Amilton participou da negociação da venda de 400 milhões de doses da AstraZeneca, envolvendo a Davati Medical Supply, e afirmou que receberia uma doação — financeira — caso o acordo fosse fechado.

Lembrando… Essa é a negociação que envolve o suposto pedido de propina de US$ 1 para cada dose feito pelo então chefe de logística do Ministério da Saúde.

Os senadores, então, chamaram o reverendo de estelionatário, pontuando seus interesses financeiros na negociação. Amilton disse que o interesse era humanitário.

O depoimento foi tido como “confuso”, já que Amilton disse não se lembrar de reuniões e negociações com municípios, apesar de e-mails indicarem o contrário.

Ainda na sessão que marcou o retorno dos trabalhos após o recesso parlamentar, o representante da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários) disse que cometeu um erro ao negociar vacinas e pediu perdão ao país.

“Hoje de madrugada antes de vir para cá eu dobrei meus joelhos, orei, e peço desculpa ao Brasil, porque o erro que eu cometi não agradou primeiramente os olhos de Deus”, disse.

Pouco antes da confissão, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que o policial militar Luiz Paulo Dominghetti e o representante da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, “parecem trambiqueiros” e questionou se o reverendo se arrependia de algo.

Foi neste momento que Amilton de Paula afirmou que “o maior erro foi abrir a porta da minha casa num momento que eu estava sofrendo a perda de um ente querido da família e eu queria vacina para o Brasil”. “Eu tenho culpa, sim”, confessou.

“Vendi meu carro, tudo que eu tinha para dar para a igreja. E esse erro que eu cometi, se eu pudesse voltar atrás, eu voltaria. Peço perdão para os senadores e se eu puder fazer algo para melhorar a vida de alguém… estou aqui para contribuir com o Brasil sempre”, concluiu.