O depoimento de Luiz Paulo Dominguetti Pereira à CPI da Covid, considerado por muitos como confuso e pouco produtivo, foi lógico e dotado de sentido na visão da líder da senadora Simone Tebet (MDB-MS). Para a parlamentar, que participou da reunião, Dominguetti não veio apenas para confundir a discussão.
“O depoimento dele faz sentido e, no final, ficou claro que ele utilizou esse áudio indevidamente. Ele recebeu um áudio do Cristiano de 2020 e só passou agora para trazer para cá”, disse a senadora Tebet, referindo-se à gravação apresentada por Dominguetti, enviada pelo CEO da Davati, Cristiano Carvalho, e que poderia incriminar o deputado Luis Miranda (DEM-DF).
Ainda durante a sessão, Miranda foi até a CPI e acusou que o áudio era editado e usado fora de contexto. Para Simone, Dominguetti não seria um laranja, mas sim alguém usado pelo CEO da Davati. Com isso, argumenta, é preciso tomar o depoimento também de Cristiano, e com isso “fechar a caixinha” deste tema, voltando o foco da CPI para o caso Covaxin.
O depoimento do representante da empresa Davati Medical Supply promoveu um dos momentos mais nebulosos entre todas as 30 reuniões da CPI da Covid até agora. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que integra a base governista na comissão, chamou a reunião de “a mais confusa de que eu pude participar”, e mesmo Marcos Rogério (DEM-RO) chegou a criticar a postura de Dominguetti. O líder do governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), acusou a empresa de tentar vender vacinas sem que a própria produtora soubesse. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) chegou a pedir sua prisão.
Além disso, parlamentares colocaram em dúvida as intenções do policial militar mineiro ao se apresentar à comissão. Durante todo o depoimento de Dominguetti, deputados e senadores indicaram que a convocação dele se assemelhava a um “Cavalo de Troia” enviado para atrapalhar os trabalhos da investigação.
O senador Humberto Costa (PT-PE) foi um dos que demonstrou suspeitas:
O senador Eduardo Braga (MDB-AM), que também é titular da CPI, apontou estranheza ao procurar e não achar dados que unam Dominguetti e a Davati (que se apresentou ao governo para importar as vacinas da Astrazeneca), assim como não conseguiu comprovar a ligação da Davati com a AstraZeneca. Com isso, mais de um crime poderia estar em frente aos senadores:
A própria Simone Tebet chegou, durante sua fala na CPI, a comparar a postura de Dominguetti ao chamado “Caso Uruguai”, usado pela defesa do então presidente Fernando Collor de Mello para justificar rendimentos seus no exterior. Em 1992, o secretário particular de Collor, Claudio Vieira, tentou justificar que ele teria feito um empréstimo de US$ 3,75 milhões, juntos a um doleiro no país. A história não impediu o afastamento de Collor, mas permitiu que o Supremo Tribunal Federal (STF) o inocentasse de crime comum.
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