Estudo feito por pesquisadores da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) aponta para os riscos à saúde pelo uso de cigarros eletrônicos. O artigo foi aceito para publicação na revista Ciência & Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva e divulgado hoje (31), quando se comemora o Dia Mundial sem Tabaco.
Os pesquisadores analisaram 22 estudos de diferentes países sobre o tema, totalizando 97.659 participantes. Sobre o uso do cigarro convencional, nos últimos 30 dias foram analisados nove estudos com 33.741 indivíduos. Todas as pesquisas foram publicadas entre 2016 e 2020, informou o Inca, por meio de sua assessoria de imprensa.
A coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, médica epidemiologista Liz Almeida, disse que em um primeiro momento os cigarros eletrônicos foram criados para ajudar os fumantes a deixar de fumar. “Que eles seriam menos tóxicos que o cigarro comum, teriam menos riscos. Com o tempo, a gente foi vendo que ele não era tão bonzinho assim. Tem riscos porque tem substâncias que também são cancerígenas.”
Liz Almeida ressaltou que os cigarros eletrônicos foram pensados como substitutos dos cigarros comuns para aquelas pessoas que não conseguem parar de fumar de jeito nenhum. Essa foi a ideia inicial.
“Só que com o passar do tempo não foi isso que se viu. A indústria passou a investir de forma muito tensa em fazer novos usuários. A maior adesão que esse produto teve em todo o mundo foram os jovens que nunca tinham fumado. Nos Estados Unidos isso foi uma epidemia”.
Dependência
O problema é que o cigarro eletrônico contém nicotina, que é uma substância que desenvolve dependência. “Uma vez que você passa a ficar dependente da nicotina, você pega qualquer produto do tabaco que estiver ao seu alcance”, disse a médica do Inca.
Muitas pessoas que nunca haviam fumado antes começaram a fumar cigarro eletrônico e, de repente, passaram a experimentar e usar o cigarro comum. Segundo Liz, muita gente passou a usar o cigarro eletrônico em ambiente fechado e o cigarro tradicional em ambiente externo. Para a médica, isso ocorreu porque muitos desses aparelhos têm um formato super discreto, como o de um pendrive e outros têm formatos de material escolar, o que não era percebido pelos pais.
A ideia inicial de ajudar fumantes a parar de fumar com o uso de produto que oferecesse menor risco foi ficando para segundo plano. Então, o que ganhou volume foi o cigarro eletrônico, mais consumido na faixa etária menor, de maior poder aquisitivo e do sexo masculino. Depois, as meninas também começaram a utilizar, disse a médica.
A revisão sistemática feita pelo Inca, no final do processo, mostrou que o uso de cigarro eletrônico aumenta em três vezes e meia mais o risco de experimentação de cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de uso do cigarro.
“Nossos resultados mostram que o cigarro eletrônico aumenta a chance de iniciação do uso do cigarro convencional entre aqueles que nunca fumaram, contribuindo para a desaceleração da queda no número de fumantes no Brasil”. Todos os estudos foram unânimes em mostrar essa associação.
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