A arte Kadiwéu encanta qualquer olhar

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Os Kadiwéu, herdeiros da linhagem Guaicurús, conhecidos como “índios cavaleiros”, pela destreza na montaria, guardam em sua mitologia, na arte e em seus rituais o modo de ser de uma sociedade hierarquizada entre senhores e cativos. Guerreiros, lutaram pelo Brasil na Guerra do Paraguai, razão pela qual eles tiveram suas terras reconhecidas. Atualmente estão concentrados na Reserva Indígena Kadiwéu, a oeste do Rio Miranda, na fronteira do estado de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, no Brasil.

Alguns velhos, mulheres e sobretudo as crianças falam apenas o Kadiwéu. Um bom número entre eles, contudo, se comunica com facilidade em português. Na língua Kadiwéu tem muitas diferenças entre as falas masculina e feminina. É valido notar que os descendentes de Terena que vivem entre os Kadiwéu usam apenas o português para se comunicar na aldeia (não usam a língua Terena nem entre si). Porém, mesmo que não falem, entendem perfeitamente o Kadiwéu, pois é em português que são questionados e interpretados.

Riqueza em potencial artístico:

Os finos desenhos corporais realizados pelos homens e mulheres Kadiwéu resultam em uma forma notável da expressão de sua arte. Hábeis desenhistas estampam rostos com desenhos minuciosos e simétricos, traçados com a tinta obtida da mistura de suco de jenipapo com pó de carvão, aplicada com uma fina lasca de madeira ou taquara.

No passado, a pintura corporal marcava a diferença entre nobres, guerreiros e cativos.

Somente as mulheres Kadiwéu produzem belas peças de cerâmica: vasos de diversos tamanho e formato, pratos também de diversos tamanhos e profundidade, animais, enfeites de parede, entre outras peças criativas. São decoradas com padrões que são distintos, que segue a um repertório rico, mas fixo, de formas preenchidas com variadas cores.

Cerâmica Kadiwéu, exposta e comercializada na Casa do Artesão de Campo Grande

A matéria-prima de seu trabalho encontram-na em barreiros especiais, que contêm o barro da consistência e tonalidade ideais para a cerâmica durável. Os pigmentos para sua pintura são conseguidos de areias dos mais variados tons, alguns dos detalhes sendo envernizados com a resina do pau-santo.

Algumas das obras de arte abaixo foram feitas pela Creuza Vergilio e Adriele Vergílio de Almeida. Mãe e filha moram na Aldeia Alves de Barros, que fica localizada no município de Porto Murtinho – MS, lá elas produzem e comercializam também.

Dona Creuza e Adriele / “Nessa imagem tá eu e minha mãe quando eu comecei a fazer as cerâmicas” (Adriele Vergilio de Almeida)

O processo fabril e finalização das peças tem duração de até 5 dias – Adriele explica ” Existe um processo de fazer, deixar o barro secar depois de seco a gente queima e ainda envernizamos a peça. Cada uma tem um cuidado bem especial”.

Creuza Vergilio / Acervo pessoal

Só conheceremos a cultura do país se a gente conhece a arte. Sem conhecer as artes do povo, a gente só consegue conhecer um pouquinho da sua cultura. Daí é possível entender quem somos, onde estamos e como sentimos.

A riqueza da cultura kadiwéu seja na mitologia, na religião ou na arte – pintura, cerâmica, entalhe, metais e modelagem – são refletidas uma diversidade de obras e habilidade manual desenvolvida por meio das técnica adquiridas por seus antepassados.

Resgatar a memória desse povo, pelas suas tradições, conhecimentos e sua arte, revela valores e características próprias.