Pressionado, principalmente por parlamentares, chanceler colocou o cargo à disposição do presidente Jair Bolsonaro
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão do cargo nesta segunda-feira (29) durante encontro com o presidente Jair Bolsonaro. A informação foi dada por ele aos seus secretários em reunião realizada nesta manhã. O diplomata era alvo de forte pressão do Congresso, que cobrava do presidente uma mudança na política externa, e dos próprios colegas diplomatas.
A avaliação dos parlamentares é que parte das dificuldades encontradas pelo país para importar vacinas e insumos se deve à gestão de Ernesto, que fez alinhamento incondicional ao governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, e comprou briga com a China em várias ocasiões.
No fim de semana, o chanceler se envolveu em um novo embate com parlamentares, que complicou ainda mais a situação dele no Itamaraty. Em mensagem postada no Twitter, ele afirmou que a senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, cobrou o apoio dele à tecnologia chinesa do 5G, indicando que este era o real interesse dos parlamentares, e não as vacinas.
Os chineses são os principais produtores de insumos para as vacinas contra a covid-19. Com a saída de Trump e a posse de Joe Biden, Ernesto viu sua política ser ainda mais contestada, devido ao isolamento a que relegou o Brasil. Ele fazia parte da chamada “ala ideológica” do governo de Jair Bolsonaro, conhecida pelo sectarismo e pela influência que sofre do escritor Olavo de Carvalho. Nos últimos dias Ernesto Araújo se viu abandonado até mesmo por parlamentares bolsonaristas.
A afirmação deixou senadores revoltados. Kátia Abreu classificou o ministro como “a face de um marginal”, que viveria “à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições”.
Após a demissão, congressistas comentaram o pedido de demissão do chanceler anunciado no fim da manhã.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da minoria no Senado, casa que capitaneou a insurgência contra o ministro, diz que Ernesto “é o bode que colocaram na sala para que outros não paguem o pecado a ser expiado”.
“A fritura do ministro das Relações Exteriores é evidente. Ele foi escalado como culpado da hora pelo atraso e ausência de vacinas no país. Que Araújo é uma catástrofe diplomática, ninguém nega. Mas ele é o bode que colocaram na sala para que outros não paguem o pecado a ser expiado. Se o Brasil não tem vacinas, o responsável é Bolsonaro. Foi ele quem sabotou a negociação das vacinas com países produtores e laboratórios. Foi o seu negacionismo que ignorou a primeira oferta da Pfizer, que recusou e criticou a compra da Coronavac e fez discursos irresponsáveis contra a vacinação”, disse.
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