Em meio a uma criação dos anos 60, as mulheres dessa família resolveram enfrentar o paradigma e mostrar que de fato são protagonistas de suas vidas, sem perderem o amor pela vida, pelo trabalho e pela família. Mostraram suas vidas no dia internacional da mulher.
Isildinha Moral
Nascida e criada para ter comportamentos tradicionais para a época, Isildinha, uma mulher de sorriso largo, perfil charmoso pela beleza, inteligência e carisma, teve a educação padrão do tempo. Cursou o primário tendo as melhores notas do colégio e conseguiu bolsa integral para o Ensino Médio em colégio particular. Graduou-se em Letras, Pedagogia e fez inúmeros cursos voltados à educação.
Professora do Estado, orgulha-se da trajetória criada em meio aos obstáculos que as escolhas trouxeram a ela.
“Eu nasci e tive uma educação bem padrão da época, segundo a minha visão atual sobre a vida. Fui criada com rigidez, mas nunca apanhei, nem um tapa se quer de nenhum dos dois. Minha mãe me criou com educação machista, no que refere-se ao ser recatada, casar virgem, ser discreta no comportamento, nas roupas, não sair muito para a vida noturna, sempre pouca diversão. Por outro lado, me dizia que mulher tem que estudar, trabalhar, ter profissão e renda própria, pelo fato dela não ter tido nada disso“.
Aos 9 anos, a paixão pela professora de Português do Ensino Fundamental fez com que ela buscasse aprender e ensinar aos conhecidos. “Assim como a minha mãe, a minha professora de Português do primário, foi uma das minhas fontes de inspiração para eu me graduar e sempre correr atrás de ser alguém melhor”. “Elas me encantaram e me ensinaram desde cedo que os estudos, dedicação e muito trabalho seriam a base da minha vida”. Isildinha, desde os 13 anos de idade, dava aula de reforço escolar de Língua Portuguesa a vizinhança de onde morava em Campo Grande e aos 20 anos ela já lecionava em Escola, aos 25 anos efetiva na rede estadual do MS.
A mãe de 4 filhas, avó de 1 menina e 1 menino, aos 60 anos sabe reconhecer que hoje ela é a mulher que sempre desejou ser – forte, independente, mãe, avó e com muito amor.
Quando questionada se ela se intimidou com os assédios morais e se ela os via como uma violência, Isildinha reafirma que jamais se fez vítimas desses obstáculos. “Talvez eu não visse isso como um problema. Eu sempre ví como um obstáculo e que todas as mulheres passariam por isso, mas eu nunca me fiz uma vítima. Sempre tive jogo de cintura e consegui fazer com que esses homens e mulheres saíssem envergonhados pela ação deles”. “Recebi esse ensinamento do meus pais e passei às minhas 4 filhas, com muita naturalidade. Tenho muito claro em mim que meu caminho foi de batalhas árduas, porque além de mulher eu era mãe e trabalhadora, mas eu tinha a vantagem de ter tido ensino e educação e o que eu quis passar as minhas filhas é que a educação e o trabalho as libertariam”.
Kisie Ainoã
Uma das filhas dela é a Fotojornalista Kísie Ainoã. A mãe do garoto Ian de 13 anos, sempre viu na mãe um exemplo de mulher de coragem e perseverança, que sempre esteve ao seu lado.
Hoje continuam essa relação de cumplicidade, de trocas de experiências e de suporte uma da outra ao morarem juntas – Isildinha, Kisie Ainoã, Ian e Karen Coema (a irmã caçula).
“Eu sempre quis ter o mesmo equilíbrio e energia da minha mãe, que sempre trabalhou e cuidou de nós. Sei das adversidades e admiro as lutas dela e sempre almejei ter o conhecimento e trabalhar tanto quanto ela trabalha”. “Hoje eu sei que sou a única responsável pela minha vida e que eu posso ser o que eu quiser”.
Na vida Kisie diz que nunca foi empecilho ser mãe aos 19 anos de idade, estudante e trabalhadora, afinal teve como exemplo somente mulheres fortes que fazem ou fizeram parte da vida dela. Os exemplos diários da sua mãe foram marcantes para todas as tomadas de decisões e ela quer repassar, tudo oque aprendeu com a mãe, ao filho primogênito.
“Foi uma educação muito natural, mesmo eu sendo aluna no colégio que meus pais tiveram, eu nunca tive a cobrança em ser a melhor aluna ou de ser exemplo para outros alunos. Isso aconteceu naturalmente e eu me sinto muito confortável. Nunca tivemos pesos ou cobranças que não nos coubessem”. “Hoje eu quero passar ao meu filho esse conforto em aprender sem ter a obrigação de ser o melhor. Ele naturalmente já é o melhor dele mesmo”.
Depois de conhecer a história dessa família de mulheres lindas, inteligentes e extremamente amorosas, eu não consigo parar de pensar em um trecho do livro Mãe, da autora Cris Guerra, que descreva muito a vida das mulheres desta família.
(…)
Não pense você que ao se tornar
mãe uma mulher abandona todas
as mulheres que já foi um dia.
Bobagem. Ganha mais mulheres
em si mesma. Com seus desejos
aumentam sua audácia, sua garra,
seus poderes.
Se já era impossível, cuidado:
ela vira muitas.
Também não me venha imaginar
mães como seres delicados e frágeis.
Mães são fogo, ninguém segura.
Se antes eram incapazes de matar
um mosquito, adquirem uma fúria
inédita.
Montam guarda ao lado
de suas crias, dispostas a enfrentar
tudo o que zumbir perto delas:
pernilongos, lagartas, leões, gente.
(trecho do livro Mãe, da Autora Cris Guerra)