Sete bairros de Campo Grande receberam 1,5 milhão de mosquitos com Wolbachia que foram soltos na última semana, que marcou a inauguração da Biofábrica, instalada na sede do Laboratório Central de Mato Grosso do Sul (Lacen/MS), espaço cedido pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Saúde. A Biofábrica foi equipada pelo WMP Brasil/Fiocruz, com recursos do Ministério da Saúde, e conta com uma equipe cedida pela Sesau. As liberações ocorrerão uma vez por semana, em cada bairro, por 16 semanas. As rotas são completadas a cada sexta-feira.
Além do Aero Rancho, as liberações ocorreram nos bairros: Guanandi, Batistão, Centenário, Coophavila II, Tijuca e Lageado. Nestes bairros, os wolbitos – como são chamados os mosquitos – serão liberados por agentes de saúde. As liberações ocorrerão no período da manhã e serão feitas por meio de veículos cedidos pela SES.
Para o secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, a iniciativa representa um verdadeiro alívio para Mato Grosso do Sul, que sofre com a doença há muitos anos. “Com os investimentos na ciência e na pesquisa, como o Governo de MS tem feito, poderemos encontrar soluções para combater eventuais epidemias. Mas nós queremos expandir este projeto do Método Wolbachia para outras cidades sul-mato-grossenses como Corumbá, Três Lagoas, Dourados e Ponta Porã”.
Quanto a Biofábrica, Geraldo Resende afirma que ela representa um marco histórico no enfrentamento às arborviroses em Mato Grosso do Sul. “Foram tratativas iniciadas no ano passado e no início deste ano que culminaram na inauguração da nossa Biofábrica, sendo um presente para o nosso Estado. Isto mostra que o Governo do Estado não está preocupado apenas com o enfretamento à Covid, mas preocupado com todas as outras doenças. Então, a Biofábrica é muito importante para nós”.
Segundo o gestor local de implementação do WMP Brasil/Fiocruz, Gabriel Sylvestre, a segunda fase de liberações começa daqui a 16 semanas. Até lá, será realizado o trabalho de engajamento comunitário. “Cada etapa de liberações dura 16 semanas. A segunda fase, portanto, que englobará 11 novos bairros, terá início em 4 meses, dando continuidade ao trabalho”. Todos os bairros do município de Campo Grande serão contemplados até 2022.
Estas ações reforçam as iniciativas da SES no combate à Dengue, Zika e Chikungunya, além da Febre Amarela e integram o calendário da Campanha “Aproveite a Quarentena e Limpe o seu Quintal”. Criado pelo World Mosquito Program (WMP), o Método Wolbachia é financiado pelo Ministério da Saúde e conduzido no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), implementado em Campo Grande com apoio da SES e da Secretaria Municipal de Saúde (SESAU).
Método Wolbachia
A Wolbachia é uma bactéria intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas que não estava presente no Aedes aegypti. Quando presente neste mosquito, ela impede que os vírus da Dengue, Zika, Chikungunya e febre amarela se desenvolvam dentro do mosquito, contribuindo para redução destas doenças. Não há modificação genética nem no mosquito, nem na bactéria.
O Método Wolbachia consiste na liberação de Aedes aegypti com Wolbachia para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais e gerar uma nova população destes mosquitos, todos com Wolbachia. Uma vez que os mosquitos com Wolbachia são liberados no ambiente, eles se reproduzem com mosquitos de campo e ajudam a criar uma nova geração de mosquitos com Wolbachia. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos que carregam a Wolbachia aumenta, até que permaneça alta sem a necessidade de novas liberações.
Desenvolvido na Austrália pelo World Mosquito Program, o Método Wolbachia é uma iniciativa internacional sem fins lucrativos que trabalha no combate às doenças transmitidas por mosquitos. Atualmente operando em 11 países, em mais de 20 cidades, o método tem apresentado resultados promissores nas diferentes localidades. Há quatro anos não se tem registro de casos autóctones de dengue na Austrália. Na Indonésia, um estudo clínico randomizado (RCT), padrão ouro na epidemiologia, demonstrou 77% de redução nos casos de dengue.
No Brasil, o método é implementado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com financiamento do Ministério da Saúde, em parceria com governos locais. Tendo iniciado em partes dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, os resultados preliminares apontam redução de 75% de casos de Chikungunya em áreas com o wolbito. Com base nas diversas experiências bem-sucedidas, o WMP entrou em processo de expansão nacional no ano de 2019. Atualmente, o método do WMP está sendo implementado nas cidades de Campo Grande (MS), Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG), com financiamento do Ministério da Saúde e em parceria com os governos locais e diversos outros parceiros locais. Em Belo Horizonte já teve início a soltura dos wolbitos em três regiões pilotos e será realizado um RCT no município.