Pesquisa analisa relação entre isolamento social e doenças mentais

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Lazer no Parque do Ibirapuera após a flexibilização do isolamento social durante a pandemia de covid-19.

Uma pesquisa sobre o comportamento dos brasileiros durante o isolamento social mostra que as pessoas que deixaram o isolamento para se entreter, apresentaram piores níveis de adoecimento mental do que aquelas que continuaram em quarentena. O isolamento social foi uma das medidas adotadas por governos estaduais e municipais para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus.

“A pessoa que permaneceu em quarentena parece ter mais recursos emocionais, cognitivos, para ficar confinada, em comparação com aquelas pessoas que flexibilizaram para o entretenimento”, disse o coordenador da pesquisa, professor Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O estudo começou em março e está agora na terceira fase, de análise de dados. Os resultados da terceira fase, realizada entre os dias 20 e 25 de junho, deverão ser divulgados até o final deste mês, prevê Filgueiras.

Outro dado interessante é que pessoas que precisam sair para trabalhar costumam adoecer mais, do ponto de vista mental, do que aquelas que permanecem trabalhando de casa. “O advento do home office é protetivo do ponto de vista de saúde mental, comparado com pessoas que precisam sair para trabalhar”, apontou Filgueiras. Motoristas de ônibus, entregadores, profissionais de saúde que estão na linha de frente, todos apresentam quadros piores de sintomas de doenças mentais, completou.

Etapas

Participaram das duas fases anteriores do estudo, realizadas de 20 a 25 de março e de 15 a 20 de abril, 1.460 pessoas de 23 cidades de nove estados brasileiros, que responderam a um questionário ‘online’ com mais de 200 perguntas. A pesquisa é coordenada pelo professor Filgueiras, do Laboratório de Neuropsicologia Cognitiva e Esportiva (LaNCE), em parceria com doutor Matthew Stults-Kolehmainen, do Yale New Haven Hospital, dos Estados Unidos.

Nessa terceira fase, foram entrevistados 1.896 brasileiros de 16 estados, dos quais apenas 120 participaram das etapas anteriores. Segundo Filgueiras, não houve queda do nível de adoecimento mental em relação a abril. Nas duas etapas anteriores, as ocorrências de ansiedade e estresse apresentaram aumento de 80%. 

Embora ainda não possa afirmar com precisão, Filgueiras disse que “se a gente pensar que os dados de março são dados parecidos com a prevalência na população brasileira, além de ter dobrado desse momento para abril, provavelmente ainda teve um aumento para junho. Isso significa que nós estamos com duas vezes, pelo menos, mais pessoas doentes mentalmente do que comparado fora da pandemia. Isso é uma situação bem grave”.

Depressão

Alberto Filgueiras analisou que os casos de depressão, por exemplo, podem ter consequências graves. A mais básica delas é o suicídio. “É a ocorrência mais comum nos casos de depressão agudizada, quando ela está bem evoluída, além de dificuldades de trabalhar, de lidar com situações da vida. A pessoa perde a capacidade de fazer coisas básicas, como tomar banho, ela perde energia para trabalhar, para fazer as coisas, como se a vida fosse insossa para o deprimido”.

Os casos de ansiedade e estresse, por sua vez, podem resultar em doenças cardíacas, coronarianas, possíveis enfartes, gastrites, problemas estomacais, obesidade, anemia. “A alimentação fica desbalanceada. Muita coisa pode ser causada por esses quadros de ansiedade e estresse que a gente está observando”. Filgueiras afirmou que, muitas vezes, isso é tratado como se fosse um problema físico quando, na verdade, se trata de um problema de ordem mental que não está sendo detectado. “Isso é comum de acontecer”.

Os dados de março e abril revelaram que as mulheres são mais propensas do que os homens a sofrer com estresse e ansiedade durante a quarentena. Mas quem recorreu à psicoterapia pela internet apresentou índices menores desses dois problemas. (Alana Gandra)

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