União de forças resulta em estratégia que cuida da saúde dos indígenas de MS no combate ao coronavírus

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Cuidado com a saúde e com o emocional dos indígenas compõe a estratégia de combate ao coronavírus nas aldeias de MS, envolvendo instituições públicas e privadas do Estado

O Estado do Mato Grosso do Sul possui a segunda maior população indígena do Brasil. A maior reserva está no município de Dourados, onde atualmente existem 30 casos confirmados de coronavírus. A preocupação para conter o avanço resultou em uma estratégia elaborada pelo Governo do Estado, por intermédio da Secretaria de Comércio Exterior, com a parceria e apoio de diversas empresas públicas e privadas, que correm contra o tempo.

O início do plano de ação em Dourados começou antes mesmo do primeiro caso confirmado da doença, quando a SES montou unidades sentinelas para coleta de amostras de swab em pacientes indígenas que apresentassem sintomas síndrome gripal, realizando exame RT-PCR de painel viral para onze vírus respiratórios.

A partir do primeiro caso constatado, que foi de uma funcionária de importante empresa frigorífica da região, começou a ampliação da testagem, na denominada segunda fase do plano de ação. A infectologista e integrante do Centro de Operações Emergenciais, Mariana Croda, explica a estratégia: “A partir disso iniciamos a ampliação da testagem na população indígena e na rede de contatos do caso confirmado, dentro e fora da aldeia, através de testes e isolamento domiciliar”.

Diante disso e como fruto de diversas articulações, etapas de trabalho, organização e força tarefa, a Secretaria de Saúde, juntamente com o Ministério Público Federal, com a Secretaria Municipal de Saúde, com a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), com a Diocese Católica, com a UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), com a própria JBS, entre outras instituições parceiras adotaram medidas para evitar a propagação do vírus.

No primeiro momento, a empresa frigorífica adotou todo protocolo sanitário e monitorou a rede de contatos com o caso confirmado, assim como a realização de testagem nas equipes. Em seguida, foi montada uma estrutura no Cursilho, pertencente a Diocese de Dourados, para receber casos positivos, porém, assintomáticos da doença. Até o momento, 21 pessoas estão instaladas no local.

Na avaliação do diácono Carlos Alberto Afonso, a medida é necessária, mas é importante também minimizar impactos emocionais. “Foi feita uma vistoria neste local escolhido e fizemos a arrecadação de cobertores, travesseiros e lençóis. Precisávamos de 30 unidades, mas a população douradense ajudou muito. “É o que poderá frear essa subida no número de casos dentro das aldeias. Montamos um aparato, um preparo emocional, para recebê-los. Afinal, ninguém gosta de sair de casa”.

Para o líder indígena e membro do Conselho local de Saúde Indígena, Fernando Souza, o diálogo aberto é importante e o retorno por parte deles tem sido de compreensão e de cuidado com o próximo. “A situação é preocupante e eu vejo ansiedade na comunidade. Tudo é novidade. Precisamos traduzir tudo o que está acontecendo no mundo num contexto próprio para a complexidade indígena. Mas o nosso povo entende que é para preservar os membros da sociedade. A retirada não é questionável por parte de nossas lideranças”.  A liderança afirma que estão sendo levantadas parcerias para que sejam elaboradas atividades educativas e de lazer para as pessoas que estão neste espaço.

Segundo o procurador do Ministério Público Federal, Marco Antonio Delfino, a iniciativa é fundamental e vem em momento oportuno. “A pandemia representa um claro desafio ao pleno atendimento do preceito constitucional que estabelece a saúde  como um direito de todos e um dever do Estado. Em um momento de claro agravamento do quadro de infectados em todo país, é fundamental que todas as instituições se irmanem em conjunto com a sociedade para que possamos, definitivamente, derrotar o vírus”.

O secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, desde o início da propagação do vírus em Dourados tem alertado para a situação e elencado as medidas necessária. Resende ressalta: “É preciso um olhar especial para a comunidade indígena, não apenas de Dourados, mas também em todo o Estado, tanto que Amambai já trabalha no plano de ação elaborado”. De acordo com a Sesai, a equipe multidisciplinar da saúde indígena do polo de Caarapó está sendo treinada ainda essa semana para início das coletas com apoio do Estado.