Com padrões gráficos e cores variadas, calçados do tipo alpargatas, dignos de desfilarem nas passarelas de moda de todo o mundo, estão sendo customizados ponto a ponto dentro de um dos maiores presídios de Mato Grosso do Sul.
Nas mãos de internos do Instituto Penal de Campo Grande (IPCG), sapatos que aliam bom gosto e conforto, também representam uma oportunidade de remir pena e conquistar remuneração, ao mesmo tempo em que podem sonhar com um futuro melhor quando conquistarem a liberdade.
A iniciativa faz parte de um convênio da Divisão de Trabalho da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e a Divino Santo, uma das 198 empresas conveniadas para ocupação da mão de obra prisional no Estado.
A produção teve início há quatro meses e consiste na customização de alpargatas com pedrarias, lantejoulas e bordados. O trabalho é minucioso, cada detalhe é pensado e feito com muita dedicação pelos reeducandos. A partir de modelos impressos, as peças vão se transformando de simples alpargatas em belas peças personalizadas, em diferentes formatos, cores e desenhos.
A produção dos internos consiste na customização de alpargatas com pedrarias, lantejoulas e bordados
A empresária Ana Mattos, que é decoradora e formada em Moda, conta que viu nas alpargatas customizadas um nicho de mercado a ser explorado no Estado. “Hoje elas são vendidas em todo o Brasil e a meta é exportar os produtos. Tenho alpargatas sendo vendidas em um shopping na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e já tenho uma empresária de Portugal querendo vender também”, informa.
Na oficina, os internos aplicam várias habilidades, seja bordando, pintando ou costurando. Atualmente 13 custodiados atuam na produção; João Paulo de Freitas é um deles e garante que a oportunidade tem proporcionado bons frutos e uma nova experiência no mundo da arte.
Ele conta que o talento herdou da mãe e da experiência com técnicas da arte em madeira, adquirida quando trabalhava com marcenaria. No presídio começou a participar do projeto de arteterapia “Um Olhar Além das Grades”, o que permitiu aprimorar ainda mais os trabalhos de artesanato.
João Paulo garante que a oportunidade tem proporcionado bons frutos
É João Paulo quem monitora todos os trabalhos para evitar os desperdícios de linhas, lantejoulas e outros materiais. “O lucro todo pode ser perdido se não tivermos esse controle”, comenta, com a segurança e visão de quem não pode desperdiçar a oportunidade, conquistada graças ao seu empenho e disciplina.
Outro a dedicar seu tempo e suor à produção é o detento Jeferson da Silva Souza, que assegura estar mais disciplinado pelo trabalho. Mesmo sem experiência nenhuma, o reeducando encontra a cada par de alpargatas que produz, a certeza de que existe esperança de um futuro diferente e a chance de adquirir uma nova profissão. “Dou o meu melhor, faço com muito amor, como se eu tivesse fazendo para minha mãe e minha filha, não posso correr o risco de soltar um fio sequer, a qualidade é fundamental”, afirma.
O interno se adaptou tanto com a arte da costura que já pensa em conquistar uma vaga na empresa quando estiver em liberdade. “Já até conversei com a dona se seria possível ela me dar um emprego quando eu estiver lá fora, e ela me disse que sim, estou muito feliz”, comemora.
Além da remuneração, os reeducandos recebem remição de um dia na pena a cada três trabalhados, conforme estabelecido na Lei de Execução Penal.
Na oficina, os detentos bordam, pintam e costuram.
A empresária revela, ainda, que as alpargatas se tornaram o produto chave de seu ateliê, que também conta com bolsas, chapéus e viseiras. “Quero incrementar diferentes produtos com os internos, eles têm capacidade, muita habilidade, e, o mais importante, vontade de aprender”, elogia. “Me surpreendeu muito esse projeto, inclusive meus clientes quando sabem da linha de produção até compram mais produtos para contribuir com a recuperação deles, então tem sido bem positivo”.
As parcerias firmadas que proporcionam ocupação produtiva aos reeducandos de Mato Grosso do Sul são coordenadas pela Diretoria de Assistência Penitenciária da Agepen, por meio da Divisão de Trabalho. Entre os benefícios dos convênios está a redução de cerca de 30% com os custos trabalhistas.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, a reintegração social dos apenados está ligada diretamente ao resgate da dignidade e oportunizar trabalho tem sido um grande aliado para possibilitar a prática da cidadania. “Ocupar a mente e aprender uma nova profissão estimula a aproximação com a família desses internos e a valorização de uma vida longe da criminalidade”, destaca. “Com mais pessoas afastadas do crime, toda a sociedade sai ganhando”, finaliza.
Quem tiver interesse em saber mais sobre como firmar convênio com o sistema prisional, entre em contato pelo telefone (67) 3901-1750 / 1046.
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