Espetáculo discute família, religião e imprensa na sociedade contemporânea brasileira

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Montagem traz as tragédias que permeiam o cotidiano nacional, inspiradas em três obras modernas da literatura dramática brasileira

O Grupo Casa inicia 2020 com mais um presente para o público. O espetáculo “Tragédias.BR” estreia nesta quarta-feira (8) e traz uma análise da sociedade atual, baseando-se em três obras nacionais: “Eles Não Usam Black Tie” de Guarniere (1958), “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues (1960) e “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes (1960). A peça continua em cartaz até o dia 19.

“Temos três espetáculos que são de uma mesma geração, anos 1950/1960. São espetáculos que tem uma temática nacional. Nelson Rodrigues fala da classe média carioca e da relação com a imprensa e distritos policiais, da hipocrisia e todo o verme exposto pela sociedade pequeno burguesa cariosa. Já com Guarniere, temos o pano de fundo que é a favela brasileira e em “O Pagador de Promessas”, temos a Bahia e o sincretismo religioso”, detalha o diretor e ator Fernando Lopes Lima.

Segundo ele, é a partir destes pilares temáticos, imprensa, religião e família, que o Grupo Casa começou as pesquisas para conceber um espetáculo que fosse didático, político e crítico, mas também divertido e com uma estética provocante.

Para alcançar esses objetivos, o grupo ainda se juntou ao Marcelo Flecha, da Pequena Cia (MA) e também ao cenógrafo Bruno Atra. “Essas duas figuras se somam a nós com intuito de encontrar caminhos interessantes e teatrais para nosso novo espetáculo. O resultado já começa a aparecer, temos um texto sendo criado e cheio de interrogações reflexivas sobre em que país queremos viver depois destas trágicas experiências”, comenta Fernando.

“O mérito de ser atual desses textos não é só de seus autores, mas também um demérito da sociedade, que não avançou praticamente nada. Ainda podemos discutir a religião como ‘achatante’, a imprensa como ‘mentirosa’, detonadora de conflitos e a hipocrisia familiar”, sintetiza o diretor.

O cenário é divido em duas partes, mais próximo a plateia fica uma casa envelhecida, abandonada e que precisa de reparos, uma alusão ao país. E mais ao fundo do palco, fica uma dimensão do futuro, subjetivo, o mundo onde surgem as ideias, os avanços. Os personagens são os porta vozes do progresso, os deuses e também o símbolo do homem sujo de si mesmo. Seus figurinos são todos inspirados em black-Ties. A trilha sonora é uma parte muito importante desta dramaturgia, e a pesquisa das músicas foi baseada na nova MPB, e vai de funk a música erudita.

“Tragédias.BR” é um espetáculo documentário, o primeiro do Grupo dessa forma de pesquisa, que sempre trabalhou com Corte Cola ou “Plágio Combinação”, que utiliza discursos alheios para criar novos discursos. “É basicamente um espetáculo histórico porque apresentamos três obras importantes da literatura brasileira como modernas e autorais, do ponto de vista como elas atravessaram o tempo e documental porque pretendemos ser uma espécie de documento analítico da sociedade contemporânea. Pretendemos fazer a plateia produzir pensamento junto com a gente a partir dessas obras que falam sobre religião, imprensa e família”, finaliza Fernando.

Serviço: O espetáculo fica em cartaz nos dias 8, 9, 10, 11, 12, 15, 16, 17, 18, 19. São duas sessões por dia, às 19h e às 21h30, na sede do Grupo Casa, localizada na Travessa Nelson Tabelião Pereira Seba, 8. A entrada custa R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

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