UEMS preserva memória cultural do Estado com acervo da professora Maria da Glória Sá Rosa

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 Nesta terça-feira (19) a UEMS (Universidade do Estado de Mato Grosso do Sul) vai entregar um verdadeiro tesouro à população, principalmente aos estudantes. A partir de 15h30 será aberta ao público o “Acervo Maria da Glória Sá Rosa” (1927-2016) contendo todo o importante acervo cultural da professora, doado à universidade pelos filhos de Glorinha, como era conhecida. São cerca de quatro mil itens, mais três mil livros, volumes raros, diários pessoais, fotos de viagens e material iconográfico de áudio e de vídeos em VHF que ainda vão passar por processo de digitalização.

A doação, que foi devidamente registrada em cartório, contou com a colaboração da professora Aline Saddi Chaves, Coordenadora do NEL, Núcleo de Ensino de Línguas, que além de intermediar o processo junto à família de Sá Rosa, viabilizou a restauração de alguns equipamentos e mobiliários da sala de estar da professora, através do apoio financeiro dos alunos  – externos –  do curso de línguas. 

No Acervo da professora a UEMS conseguiu recuperar parte do mobiliário da sala de trabalho da professora

Trabalho árduo e colaboração de alunos

Foram dois anos de intenso trabalho, realizado pelo Grupo de Pesquisa da Literatura, História e Sociedade, liderado pelos professores doutores Daniel Abrão e Volmir Cardoso Pereira e pelo NEBA, Núcleo de Estudos Bakhtinianos. No início o grupo contava com a ajuda de dois alunos do curso de Letras, mas ao longo do tempo outros alunos se juntaram a essas pessoas com a missão catalogar o acervo e fazer a limpeza dos volumes, etapas que fazem parte da instauração do acervo.

A sala será um espaço de pesquisa, disponível para o público interno e externo da UEMS. O professor Daniel, que fez a remoção dos livros pessoalmente, as pessoas poderão consultar uma expressiva coleção de livros raros, clássicos da literatura (muitos na língua original) francesa, espanhola, italiana e inglesa, além de extensa biblioteca exclusiva de autores regionais, livros de arte, história, filosofia e mapas cartográficos que datam de 1919.

A Memória da professora que é sinônimo de cultura

Maria da Glória Sá Rosa foi umas das principais professoras de Campo Grande. Pioneira no ensino, formou uma geração de intelectuais em todo o Estado. Dentre as importantes ações em prol da cultura do Estado, Glorinha lecionou nas Universidades Fucmt, hoje UCDB, e UFMS, fundou a Aliança Francesa em Campo Grande, foi membro atuante da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, onde ocupava há 44 anos a cadeira de número 19. Como escritora se tornou referência em relatar a história da cultura do Estado e teve cerca de 12 livros publicados. Recebeu o cobiçado título de Doutora Honoris Causa, outorgado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Professora Honorária pela UNIGRAN de Dourados. 

“Este é um momento importante para a Cultura do Estado, o que reforça a importância da UEMS na sociedade, além de ser uma ação que dá um suporte bibliográfico robusto aos Cursos de Letras e demais Cursos da Unidade de Campo Grande”, explica o professor Daniel. Segundo ele, Maria da Glória cruza a história e a memória cultural do Estado. “Não há como falar em curso de Letras sem passar pelo nome dela”, destaca.

Os livros preferidos de Glorinha

O professor, Daniel Abrão coletou pessoalmente todo o material do Acervo Maria da Glória da Rosa com mais de 3000 mil livros

Quem for pesquisar, ou conhecer, a Sala Maria da Glória Sá Rosa, vai perceber algumas de suas preferências literárias pelas publicações completas de autores como Carlos Drumond de Andrade, Guimarães Rosa, Jorge Luiz Borges, Proust e Manoel de Barros. Também chama a atenção as publicações dos escritores da geração conhecida como “Beatniks”, que fizeram parte de um movimento sociocultural norte-americano nos anos 1950, que propagava um estilo de vida antimaterialista. Deles, destacam-se obras de Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William S. Burroughs. Sinal claro do quanto Maria da Glória, além de culta, era uma mulher contemporânea que acompanhava todos os movimentos culturais ao redor do mundo.

O trabalho de resgate de todo o acervo da professora, no entanto, ainda não acabou. O processo, segundo o coordenador Daniel Abrão, é demorado e minucioso. Segundo ele, ao longo dos anos os livros acumulam fungos que deterioram as páginas. Por isto, além da limpeza já feita, é importante fazer um trabalho de higienização por dentro. “Mas para isto vamos precisar de verbas”, salientou. Felizmente o próximo passo já está garantido: futuramente o acervo será disponibilizado virtualmente através de site exclusivo. “Se não recuperamos acervos importantes como da professora Maria da Glória a memória acaba se diluindo”, finaliza.