Projeto do Corpo de Bombeiros do MS auxiliam doentes com doença cerebral
Campo Grande (MS) – Todos sabem que a interação entre homem e animal faz bem à saúde. Um estudo publicado no “American Journal of Cardiology”, jornal científico norte-americano que atua no campo da cardiologia, mostrou que o convívio com pets ajuda a controlar o estresse, diminui a pressão arterial e reduz o risco de problemas no coração.
Outra pesquisa desenvolvida pelo “Journal of the American Association of Human-Animal Bond Veterinarian” revelou que a relação entre humanos e cães libera por pelo menos 15 minutos altas doses de endorfina em ambos – substância que diminui a ação do cortisol, o hormônio do estresse, provocando sensação de bem-estar.
O cachorro é o animal de companhia por excelência. Não importa o que tenha acontecido ou como tenha sido seu dia de trabalho, eles estarão sempre lhe esperando. Mas, além desta lealdade, a utilização da terapia com cães como recurso terapêutico vem se tornando uma prática cada vez mais comum.
E foi pensando no bem-estar da comunidade que há sete anos o Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, desenvolveu o projeto “Cão Herói-Cão Amigo”, que atua em Campo Grande e Coxim. É mais uma ação social praticada por aqueles que, além arriscar a vida para salvar outras, possuem uma profunda compreensão humanitária.
Na capital o projeto é itinerante e passa por três instituições uma vez por semana. São elas: Cotolengo, Escola Municipal Mucio Teixeira e Hospital São Julião. Nossa reportagem visitou a Entidade Cotolengo, que dá assistência às crianças e adolescentes com paralisia cerebral grave. O programa “Cão Herói – Cão Amigo” trabalha no local com duas situações distintas, de acordo com a Major Helena Barros, coordenadora do Projeto. “Temos o trabalho com a fisioterapia, ajudando pacientes com possibilidade de evolução, e fazemos uma atividade lúdica para entreter e dar alegria para as crianças, cuja condição de saúde não tem mais condições de evoluir”, explica.
Os cães cuidam, estimulam e alegram
Na ala de fisioterapia, o cão que auxilia os profissionais é o Golias, um Golden retriever de seis anos, que é levado pela Mônica, dona do animal e voluntária do projeto, toda sexta-feira. Há dois anos ela participa da interação do cão com os pacientes, fazendo com ele que ajude nos estímulos. Ali, qualquer movimento, é uma conquista enorme. A função do Golias é ser uma porta de entrada que facilita o contato com o profissional. O trabalho fisioterapêutico é exaustivo e doloroso para os pacientes. A major compara o esforço com um adulto carregando um volume de 50 quilos durante uma hora. “O cachorro ajuda a distrair a criança e também dá uma motivação para que ela se mova apesar da dor”.
Os resultados da terapia com os cães, baseado na interatividade e assistência do tratamento fisioterapêutico, são animadores. Há casos de pacientes que chegaram sem qualquer mobilidade e que depois, graças ao tratamento, conseguem se sentar e reagir aos estímulos. É bom observar que este é um tratamento contínuo. Alguns pacientes estão na instituição desde crianças e hoje já são jovens/adultos. “É uma rotina de trabalho constante”, atesta o sargento Thiago Kalunga, que participa ativamente da parte lúdica do projeto.
Ao contrário do que se imagina, os cães que fazem parte do programa do Corpo de Bombeiros não pertencem à corporação, nem ficam confinados em um só local. Todos eles têm donos e moradias particulares. Mas estão lá para serem voluntários. “Nenhum cão aqui mora em canil”, explica a major Helena. Antes de entrar para a corporação como voluntários, eles passam por uma espécie de teste de personalidade, para saber se são dóceis e se gostam de interagir com as pessoas. Depois disto eles são treinados para o trabalho. Não há raça específica. Obviamente existem raças que são mais afeitas ao convívio como os Golden retriever, labradores, poodle, pastor alemão, collie, lhasa apso e outros. Entre a tropa do Corpo de Bombeiros encontramos até um Akita, muito bem comportado.
Conhecida no mundo todo como “Terapia assistida por animais” – TAA foi utilizada intuitivamente por William Tuke, em 1792, no tratamento de doentes mentais. No Brasil originou-se com a médica veterinária e psicóloga Hannelore Fuchs em 1997, fundadora da Abrazoo (Associação Brasileira de Zooterapia). Ela conta com o auxilio de voluntários que atuam com a interação dos animais (cães, gatos, coelhos) com crianças e adolescentes de hospitais ou instituições.