Duas décadas de história. Tempo suficiente para deixar um marco na eternidade. E o que seria do Festival de Inverno de Bonito sem as pessoas que estruturalmente o fizeram acontecer? Além do trabalho de gestores e mobilizadores que concretizam a expansão da diversidade cultural, existe a labuta de quem nunca aparece, mas é sempre o primeiro a chegar e o último a sair.
Roque, desde 1999 trabalha no Festival de Inverno de Bonito
Com bom humor e nítida paixão pelo que faz, Mamed Roque da Silva, o sr Roque, é o engenheiro eletricista responsável por toda a parte elétrica do FIB desde o ano de 1999. Segundo ele, de lá pra cá, muita coisa mudou. “Naquela época as dificuldades eram maiores. Do primeiro festival até hoje melhorou muita coisa. Não tinha alta tensão aqui na tenda principal, era lá na praça, tivemos que montar um projeto para trazer até aqui que nos deu muito trabalho. Hoje temos gerador de energia, antigamente era só transformador, pensa no sofrimento, chovia forte caía a rede toda”, lembrou Roque aos risos.
Para construir juntos tamanha aliança cultural, profissionalismo e respeito têm que andar lado a lado. É o que explica o músico Guga Borba, diretor de palco do FIB. “O segredo é esse, procurar olhar para o outro, entender que às vezes uma equipe chega de fora viajando há 15 dias na estrada, temos que relevar e entender o lado do ser humano, sempre com paciência e compreensão. É assim que trabalhamos, além disso todo mundo aqui faz o que gosta, é impossível não se divertir. Cada ano faço novos amigos e isso é o festival”, apontou Guga.
Como eles, existem outras dezenas de personagens que a reportagem do Festival de Inverno de Bonito poderia citar. São pessoas que até chegam a subir no palco, mas nunca para serem aplaudidas. E mesmo assim, contribuem com a visibilidade da cultura sul-mato-grossense.
Guga: “Cada ano faço novos amigos e isso é o festival”
Outro exemplo é o “Cegonha”, como é conhecido o coordenador de toda estrutura do Festival de Bonito, Gustavo de Arruda Castelo. Para ele é impossível resistir ao pertencimento, um sentimento comum entre os que realizam o evento. “A gente considera como um filho, criamos todos juntos esse festival. São inúmeras pessoas relacionadas, desde técnicos da fundação de cultura do Estado, aos artistas, produtores e população local. Acompanho tudo, segurança, hasteamento, palco, tudo o que envolve estrutura. As pessoas não imaginam que é um jogo de quebra-cabeças para montar, tem que gostar do que faz, deixamos nossas famílias para respirar só o festival. Teve até gente da cidade que se ofereceu para lavar nossas roupas, tem quem fica com pena e nos traz comida, é muito gratificante”, confessa Cegonha.
Aprendizado e histórias para contar
Entre tempestades e bonanças, todos trazem histórias guardadas na memória. Para quem esteve desde o início, teve sempre uma que mais marcou. “Nunca vou esquecer de quando o cantor Chico César passava o som e de repente veio um temporal e acabou com tudo em pouco tempo. O vento veio forte e levou toda a tenda, acabou o circo, voou tudo, entortou as estruturas e o vento jogou a lona em cima do transformador. Trabalhamos a noite inteira, madrugada adentro, mas com ajuda de todos conseguimos realizar o show”, lembrou Seo Roque, o engenheiro elétrico.
Era como se os deuses da cultura soprassem forte para testar e ao mesmo tempo fortalecer o festival: “Foi logo nas primeiras edições. Na segunda, acredito. Chegou uma rajada de vento e em 15 minutos acabou com o que montamos em 12 dias. Todos saíram correndo, foi desesperador, mas aprendemos muito com isso. Pois no mesmo dia uma força tarefa foi mobilizada. Produtores, pessoas que perderam seu material e até gente da cidade, todos se uniram para ajudar como voluntários e em uma noite inteira tudo foi remontado e o show aconteceu no outro dia. Foi aí que vimos a importância da união que faz tudo acontecer”, completou Cegonha, emocionado.
Dos olhos de uma artista foi que Guga Borba recebeu a energia que mais o marcou trabalhando no festival. “A experiência mais louca para mim foi agora neste governo do Reinaldo Azambuja, trouxemos Elza Soares com o show ‘Mulher do Fim do Mundo’. Nunca vou me esquecer. Ela mandou chamar todos que trabalharam no palco e colocou-os todos de costas para o público e de frente para ela. De repente Elza começou a olhar no fundo dos olhos e da alma de cada um. Parecia uma doação de energia, um sinal de gratidão pelo nosso trabalho, arrepio só de contar”, descreveu.
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