“Um espetáculo essencialmente brasileiro”. É assim que o diretor e coreógrafo Henrique Rodovalho, da Quasar Cia. de Dança, define “O que ainda guardo”, espetáculo inspirado na Bossa Nova, que será durante o XX Festival de Inverno de Bonito, no dia 27, às 19 horas, no Palco da Praça.
A apresentação ainda traz elementos que falam sobre os 30 anos de existência da Quasar e suas características marcantes. “Estilo do movimento, o humor e a leveza na dança. O que nos faz sermos reconhecidos e admirados até hoje por onde nos apresentamos”, comenta Rodovalho.
Os 30 anos da Quasar coincidem com os 60 anos da Bossa Nova. A encenação não guarda um relato linear. “As letras das canções de Bossa Nova foram pontos-chave para que um tipo de movimento se arquitetasse entre coreógrafo e intérpretes. Os temas abordados pelos compositores, muitos deles singelos e ligados a um cotidiano ingênuo e pueril, na trilha sonora são cantados como se fossem conversas entre amigos. A maneira coloquial de fazer poesia inspirou um tipo de movimentação que permeia toda obra. A partir daí o espetáculo foi se revelando como um diálogo provocativo e nada previsível, entre temas, canções e coreografias”, explica Henrique.
Estas canções da Bossa Nova, nascidas de encontros entre compositores da Zona Sul do Rio de Janeiro, ao completar 60 anos, tornaram-se admiráveis em todas as partes do mundo, e só isso já bastaria para serem desafiadoras a qualquer coreógrafo. “Unindo-se a isto a memória emotiva que cada uma das letras e notas deste cancioneiro provoca, é tarefa vigorosa produzir movimentos que desabrochem em novos significados e sentidos”.
Para desenhar um panorama da bossa nova, o cenário traz a silhueta da cidade do Rio e a trilha sonora navega da Era do Rádio ao fenômeno global que se tornou o ritmo carioca. Inclui ainda uma provocação para o preço da fama: “Garota de Ipanema” vira música de elevador. Há uma gama de canções mais e menos conhecidas em versões instrumentais ou interpretadas por vozes como as de Cauby Peixoto e Caetano Veloso. “Uma dança para cantarmos juntos”, diz Rodovalho.
É um trabalho que antes de ter sido iniciado suscitou diversos questionamentos, “principalmente sobre como a música move a dança da Quasar, e sobre como é possível traduzir uma obra musical tão própria em um espetáculo cênico instigante e hodierno”. “Em resumo, a busca foi continuamente por produzir um resultado final sensível, belo, fascinante, pleno em sua forma e em sua importância para o mundo das artes”.
O espetáculo “O que ainda guardo” marca a volta das atividades da Companhia em 2018, depois de uma paralisação 2016 por falta de patrocínio. Rodovalho está seguro de que o intervalo serviu para fazer mais do que um balanço geral ou projetar o futuro, permitiu se situar diante de incertezas. “Quando se faz 30 anos de carreira, descobre-se que não se pode parar”.
A Quasar Cia de Dança surgiu em Goiás, em 1988, e criou um sotaque próprio, delicadamente inspirado nas diversas artes e suas antíteses, criando um mundo visual e comunicacional diagramado em frames e luzes. Movimentos e expressões de dança que sempre surpreendem o público pelo viés de um olhar poético e bem humorado. Uma estética contemporânea arrojada que resulta em coreografias que cativam pelo apuro técnico.
À frente da companhia encontram-se seus fundadores, Vera Bicalho (diretora geral) e Henrique Rodovalho (diretor-artístico e coreógrafo) – ex-bailarinos do Grupo Energia, seu precursor no início dos anos 1980. A Companhia transita com muita singularidade por múltiplas estéticas com recortes e misturas inovadoras da dança que se inter-relacionam com as diferentes linguagens cênicas, instalações artísticas, multimídias, entre outros suportes e comunicações visuais. Seu principal objetivo é a profissionalização da dança e a formação de um público que melhor contextualize um trabalho que se pauta por uma forte identidade autoral. É o prazer artístico respaldado pelo selo da qualidade.
Serviço: Espetáculo “O que ainda guardo”, da Quasar Cia. De Dança, durante o XX Festival de Inverno de Bonito. Dia 27 de julho de 2019, às 19 horas, no Palco da Praça. Vale a pena conferir!
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