Perucas de inverno feitas em presídio levam “mundo lúdico” a crianças em tratamento contra o câncer

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Uma criança que é acometida por uma doença grave como o câncer precisa não só de acesso à boa assistência médica e do apoio familiar, como também, de todo cuidado para que se sinta incluída, apesar das diferenças que são impostas à sua rotina.

Com esse foco, um projeto emocionante uniu o trabalho prisional em uma corrente do bem, possibilitando que internos do Estabelecimento Penal Masculino de Regime Semiaberto de Dourados confeccionassem perucas feitas de lã para doação a instituições sociais que atendem meninos e meninas que recebem tratamento contra a doença.

Segundo especialistas, essas peças têm uma função muito importante, porque são macias e confortáveis e, por conta da sensibilidade gerada pelo tratamento com quimioterapia, muitas crianças não conseguem usar perucas convencionais. Além disso, elas são fabricadas inspiradas no visual de personagens como super-heróis e princesas, possibilitando que a imaginação leve os pequenos para onde eles quiserem.

A ação é uma parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), por meio da direção do presídio, a 3ª Vara Criminal de Dourados, a 8ª Promotoria de Justiça de Dourados e voluntárias do projeto “Amigos do Peito”. Além de proporcionar bem-estar às crianças, a ação também contribui para levar acalento ao coração dos custodiados, com a certeza de estar, com o trabalho de suas mãos, ajudando a quem precisa.

De acordo com uma das coordenadoras do projeto “Amigos do Peito”, Iracema Tibúrcio, ao todo, foram confeccionadas 180 perucas que beneficiarão pacientes da ala infantil do Hospital Universitário de Dourados, da Policlínica de Atendimento Infantil (PAI), da Associação dos Amigos das Crianças com Câncer de Campo Grande e de Barretos, em São Paulo.

As peças são frutos de um curso realizado dentro da unidade penal no segundo semestre do ano passado, cujas doações foram repassadas este mês às instituições, para coincidir com o período de inverno, conforme explica Iracema. Ao todo, 20 reeducandos trabalharam na produção das toucas que, posteriormente, se transformam em adereços infantis nas mãos das voluntárias do projeto.

Além da capacitação profissional, os internos receberam remição de um dia na pena a cada três trabalhados, conforme estabelecido pela Lei de Execução Penal (LEP).

Os reeducandos que trabalham no projeto são beneficiados com a remição da pena

Para o diretor do semiaberto de Dourados, José Nicácio do Nascimento, à medida que se desenvolvem atividades que tiram os reeducandos da ociosidade, a maioria dos internos têm maior probabilidade de reconhecerem seus erros, proporcionando a elevação da autoestima, já que se sentem úteis e valorizados. “Eles não vão permanecer presos para sempre, portanto, o trabalho e a aprendizagem são ferramentas importantes para melhorar a conduta dos internos, e sensibilizá-los, principalmente para melhor convivência familiar e social que os espera”, argumenta o dirigente.

Atendendo a uma média mensal de 70 crianças em tratamento contra o câncer, a AACC de Campo Grande foi uma das instituições beneficiadas com a doação das perucas de inverno e gorros. A coordenadora de Assistência aos Beneficiários da instituição, Rosângela Machado Barros, explica que as peças são utilizadas em atividades lúdicas desenvolvidas pelo Setor de Psicologia. “Quando as crianças começam o tratamento, algumas começam a ficar carequinhas, aí entra o trabalho da psicologia com relação à alopécia, aí são utilizadas perucas, bandanas e lenços”, comenta, reforçando que também é trabalhada, principalmente, a questão de “aceitar a carequice”.

Outros beneficiados

Cerca de 30 peças foram destinadas à Policlínica de Atendimento Infantil (PAI), em Dourados, que não é voltada especificamente ao atendimento de crianças com câncer, fazendo atendimentos em diversas especialidades médicas, em crianças de 0 a 15 anos, pela rede SUS. A entrega foi feita no dia 11 deste mês de junho.

“A iniciativa foi de extrema importância para reforçar a conscientização dos pais no cuidado com os filhos, para estarem sempre em contato e valorizando as pequenas coisas”, destacou a coordenadora geral da PAI, Valéria Milan Mattos. “Inclusive os pais ficaram bastante surpresos e muito felizes com a ação, que trouxe muita alegria e sorrisos para as crianças. Foi bem gratificante participar”, agradeceu.

Em funcionamento há cerca de dois anos, a instituição realiza uma média de 150 atendimentos diariamente. Foram entregues 150 itens, entre toucas, gorros e perucas às crianças presentes.

As perucas e gorros são feitos com lã, que tem melhor aceitação pelas crianças

Além das toucas e perucas de lã, as crianças foram agraciadas com lanches, cachorro quente e suco, oferecidos pelas mulheres do Clube Lions de Dourados, além de pipocas e algodão doce, dança do ventre pela fadinha e sessão de fotos com a personagem “Anjo”, feito pela artista Ivone Maciesck. A coordenadora do “Amigos do Peito”, Iracema Tibúrcio, agradeceu o apoio da Agepen pela oportunidade de desenvolver este projeto que contribuiu com a socialização e, ao mesmo tempo, com a remição de pena dos custodiados. “Nos colocamos à disposição para outros projetos neste sentido e agradeço em nome de todos os 60 voluntários e ativistas da causa humanitária”, disse.

O diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, destacou que ações positivas que unem o sistema penitenciário com a sociedade trazem inúmeros benefícios para ambos os lados, incentivando a mudança de comportamento nos apenados. “Isso tem se tornado possível graças às inúmeras parcerias firmadas pela instituição, que têm proporcionado ocupação produtiva e capacitação aos detentos e contribuído diretamente à população”, frisou.