Grupo Galpão, de Minas Gerais, apresenta em Bonito peça de Pirandello sobre o valor do teatro

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O Grupo Galpão, uma das companhias mais importantes do cenário teatral brasileiro, traz a Mato Grosso do Sul – no Festival de Inverno de Bonito – a peça “Os gigantes da montanha”, fábula escrita por Luigi Pirandello. A montagem narra a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila mágica, povoada por fantasmas e governada pelo Mago Cotrone. É uma alegoria sobre o valor do teatro e, por extensão, da poesia e da arte e sua capacidade de comunicação com o mundo moderno, cada vez mais pragmático e empenhado nos afazeres materiais. 

Quando morreu vítima de forte pneumonia, em 1936, Pirandello ainda não havia concluído “Os Gigantes da Montanha”, que possui apenas dois atos. Em leito de morte, autor relatou ao filho Stefano um possível final, que aparece indicado como sugestão para o terceiro ato. Para o Galpão, o fascínio de montar essa fábula está em sua incompletude, que lhe atribui característica de obra aberta, possibilitando múltiplas leituras e interpretações. O texto foi uma escolha do diretor Gabriel Villela para celebrar o reencontro com o Galpão, cuja parceria iniciou-se em 1992, com a montagem de Romeu e Julieta, seguida por A Rua da Amargura, de 1994.

Gabriel Villela e o Galpão experimentam a música, ao vivo, tocada e cantada pelos atores, como um elemento fundamental na tradução do universo da fábula para o teatro popular de rua. Para compor o repertório da peça foram selecionadas algumas árias e canções italianas, popular e moderna. “Ciao Amore”, “Bella Ciao” e outras músicas ganham novos arranjos e coloridos para ambientar a atmosfera onírica de “Os Gigantes da Montanha”.

Os Gigantes da Montanha

Para chegar a esse resultado, durante meses, os atores passaram por treinamento musical com parceiros antigos, como Babaya e Ernani Maletta, e por uma pesquisa sobre a antropologia da voz, com a performer e musicista, Francesca Dell Monica, que trabalha a partir da técnica de espacialização vocal.

A ponte Brasil–Minas-Itália é costurada pelas mãos antropofágicas de Gabriel Villela e seus assistentes de direção, Ivan Andrade e Marcelo Cordeiro, que misturam referências diversas. Num mesmo caldeirão estão reunidas Sicília, Carmo do Rio Claro, macumba, magia, Commedia Del’Artee circo-teatro, Vaudeville, Totó e Vicente Celestino, Ana Magnani e Procópio Ferreira, Mamulengo e ópera, festival de San Remo e seresta mineira.

“Os Gigantes da Montanha” convida o público para um mergulho teatral que funde e sintetiza o brasileiro com o universal, o erudito com o popular, a tradição com a vanguarda. Um desafio à altura da trajetória de mais de 35 anos de buscas e desafios do Galpão.

Os Gigantes da Montanha

Toda essa alquimia fica claramente representada nos figurinos e no cenário do espetáculo. Construído por madeira feita de demolição, o cenário de “Os Gigantes da Montanha” traz 12 mesas robustas, objetos, armários e cadeiras que se movimentam para elevar a encenação e caracterizar a atmosfera de sonho da fábula. Coloridos e brilhantes, concebidos especialmente para apresentações à noite, os adereços e figurinos do espetáculo carregam detalhes e referências do teatro popular, que surgem das ideias inventivas de Villela e das mãos criativas de seu parceiro antigo, José Rosa.

Os bordados da costureira Giovanna Vilela realçam e dão toque especial ao acabamento das peças. Tecidos trazidos da Ásia, do Peru e de outros cantos do Brasil pelo diretor, adornam as roupas. Velhas sombrinhas bordadas de “Romeu e Julieta” reaparecem e ganham nova função em “Os Gigantes da Montanha”, com efeitos que tornam a Vila de Cotrone fantasmagórica e cheia de encantamentos. Gabriel e sua equipe também se utilizam de máscaras inspiradas na Commedia Del’Arte e fabricadas pelo artista natalense Shicó do Mamulengo, para trazer à encenação um aspecto burlesco e, ao mesmo tempo, sombrio.

Grupo Galpão

Criado em 1982, desenvolve um teatro que alia rigor, pesquisa, busca de linguagem, com montagem de peças que possuem grande poder de comunicação com o público. Cerca de um milhão e oitocentos mil espectadores já assistiram aos espetáculos do grupo, que recebeu cem prêmios no Brasil e já realizou mais de três mil apresentações em mais de 270 cidades brasileiras. Apresentou-se em 18 países, participou de 48 festivais internacionais e 75 festivais no País.

Sediado na cidade de Belo Horizonte (Minas Gerais), é formado por 12 atores que trabalham com diferentes diretores convidados, além dos próprios componentes, que também já dirigiram espetáculos do grupo. O Galpão forjou sua linguagem artística a partir desses encontros diversos, criando um teatro que dialoga com o popular e o erudito, a tradição e a contemporaneidade, o teatro de rua e de palco, o universal e o regional brasileiro.

Sem fórmulas e sem métodos definidos, o Galpão sempre pautou sua prática por um teatro de grupo, que não só monta espetáculos, mas que se propõe também a uma permanente reflexão sobre a ética do ator e do teatro, inserido em um amplo universo social e cultural.

Os encontros com grupos e movimentos teatrais espalhados pelos quatro cantos do país também foram fundamentais para a formação do jeito de ser do Galpão. Desde a sua formação, a companhia sempre buscou as raízes do teatro popular e de rua. Hoje é um dos grupos que mais circula pelo país conseguindo chegar a todas as regiões do Brasil, além de ter se apresentado em diversos países da Europa, EUA, Canadá e América Latina.

No Festival de Bonito, o público poderá conferir esta trajetória de sucesso com a peça “Os Gigantes da Montanha”, de Pirandello, no dia 27.07, às 18 horas. A classificação é livre, e a duração é de 90 minutos. Direção de Gabriel Villela e dramaturgia de Eduardo Moreira e Gabriel Villela. Venha prestigiar!

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