Método que reduz proliferação do vírus da dengue entra na reta final da coleta de ovos do Aedes

326

O Método Wolbachia, uma iniciativa pioneira e internacional que poderá reduzir drasticamente a proliferação do vírus que transmite dengue e outras doenças, distribuiu em Campo Grande, nas últimas três semanas, mais de 800 armadilhas para a coleta de ovos do mosquito Aedes Aegipty. Nessa quarta-feira (15.05), na última fase da primeira etapa do trabalho, as 800 armadilhas foram coletadas e outras 400 foram depositadas em casas e estabelecimentos comerciais de voluntários do projeto.

Na próxima semana as últimas armadilhas serão coletadas e, em breve, todos os ovos serão encaminhados para o laboratório da Fiocruz no Rio de Janeiro, onde receberão a bactéria Wolbachia- que dá nome ao projeto e depois retornarão em cápsulas para Campo Grande, onde serão colocados em recipientes artificiais para eclosão. A liberação dos mosquitos na natureza deve ocorrer até o final deste ano ou início do próximo.

Na natureza, o sucesso do mosquito acontece da seguinte forma: as fêmeas do Aedes aegypti com a bactéria transmitem naturalmente a Wolbachia para os filhotes. Se o mosquito fêmea não tiver a bactéria, mas for fecundada por um macho que tenha a Wolbachia, se tornará estéril e seus ovos não geram novos mosquitos.

Estudos comprovam que o método protege a região de liberação dos mosquitos e mantém afastadas as doenças transmitidas pelo Aedes Aegipty. “O Aedes aegypti com a bactéria têm a capacidade reduzida de transmitir dengue, Zika, febre amarela e chikungunya”, afirma Mauro Lúcio.  Segundo ele, ao ser solto na natureza, o “Wolbito” – como apelidou o mosquito com a bactéria Wolbachia – se reproduz com os mosquitos de campo e gera Aedes aegypti com as mesmas características (com a bactéria), tornando o método autossustentável, sem o uso de qualquer tipo de modificação genética.

“Ocorre uma redução significativa na capacidade de transmissão dessas doenças. Quando a Wolbachia está presente, a gente não consegue detectar os vírus da dengue, chikungunya e zika na saliva desses mosquitos”, confirma o pesquisador da Fiocruz, Luciano Andrade Moreira, que está acompanhando a implantação do projeto em Mato Grosso do Sul. A eficácia já foi comprovada em locais do Rio de Janeiro e Niterói onde houve a liberação do mosquito com a bactéria. Os primeiros resultados mostraram que a Wolbachia estava presente em mais de 80% dos mosquitos Aedes aegypti encontrados nos bairros onde os mesmos foram liberados.


Armadilhas coletadas com ovos do Aedes Aegipty

Armadilhas coletadas com ovos do Aedes Aegipty

Wolbachia

No Brasil os estudos dessa iniciativa internacional começaram em 2012; dois anos depois, houve uma liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia em duas áreas piloto: Tubiacanga, na cidade do Rio de Janeiro, e em Niterói onde, em 2017, ocorreu a primeira liberação em larga escala.

Campo Grande foi escolhida pelo Ministério da Saúde como uma das três cidades brasileiras que irão realizar a etapa final do método Wolbachia para o combate ao mosquito Aedes aegypti, antes da sua incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS), num prazo de três anos. As outras são Belo Horizonte (BH) e Petrolina (PE), demandando investimentos de R$ 22 milhões.

A nova tecnologia está sendo introduzida em Mato Grosso do Sul começando por Campo Grande, numa parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde (SES) e Município da capital. Em âmbito mundial o Programa, denominado World Mosquito Program (WMP), vem sendo testado desde 2011 em diversos países como Austrália, Colômbia, Índia, Indonésia e outros.