O Método Wolbachia, uma iniciativa pioneira e internacional que poderá reduzir drasticamente a proliferação do vírus que transmite dengue e outras doenças, distribuiu em Campo Grande, nas últimas três semanas, mais de 800 armadilhas para a coleta de ovos do mosquito Aedes Aegipty. Nessa quarta-feira (15.05), na última fase da primeira etapa do trabalho, as 800 armadilhas foram coletadas e outras 400 foram depositadas em casas e estabelecimentos comerciais de voluntários do projeto.
Na próxima semana as últimas armadilhas serão coletadas e, em breve, todos os ovos serão encaminhados para o laboratório da Fiocruz no Rio de Janeiro, onde receberão a bactéria Wolbachia- que dá nome ao projeto– e depois retornarão em cápsulas para Campo Grande, onde serão colocados em recipientes artificiais para eclosão. A liberação dos mosquitos na natureza deve ocorrer até o final deste ano ou início do próximo.
Na natureza, o sucesso do mosquito acontece da seguinte forma: as fêmeas do Aedes aegypti com a bactéria transmitem naturalmente a Wolbachia para os filhotes. Se o mosquito fêmea não tiver a bactéria, mas for fecundada por um macho que tenha a Wolbachia, se tornará estéril e seus ovos não geram novos mosquitos.
Estudos comprovam que o método protege a região de liberação dos mosquitos e mantém afastadas as doenças transmitidas pelo Aedes Aegipty. “O Aedes aegypti com a bactéria têm a capacidade reduzida de transmitir dengue, Zika, febre amarela e chikungunya”, afirma Mauro Lúcio. Segundo ele, ao ser solto na natureza, o “Wolbito” – como apelidou o mosquito com a bactéria Wolbachia – se reproduz com os mosquitos de campo e gera Aedes aegypti com as mesmas características (com a bactéria), tornando o método autossustentável, sem o uso de qualquer tipo de modificação genética.
“Ocorre uma redução significativa na capacidade de transmissão dessas doenças. Quando a Wolbachia está presente, a gente não consegue detectar os vírus da dengue, chikungunya e zika na saliva desses mosquitos”, confirma o pesquisador da Fiocruz, Luciano Andrade Moreira, que está acompanhando a implantação do projeto em Mato Grosso do Sul. A eficácia já foi comprovada em locais do Rio de Janeiro e Niterói onde houve a liberação do mosquito com a bactéria. Os primeiros resultados mostraram que a Wolbachia estava presente em mais de 80% dos mosquitos Aedes aegypti encontrados nos bairros onde os mesmos foram liberados.
Armadilhas coletadas com ovos do Aedes Aegipty
Wolbachia
No Brasil os estudos dessa iniciativa internacional começaram em 2012; dois anos depois, houve uma liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia em duas áreas piloto: Tubiacanga, na cidade do Rio de Janeiro, e em Niterói onde, em 2017, ocorreu a primeira liberação em larga escala.
Campo Grande foi escolhida pelo Ministério da Saúde como uma das três cidades brasileiras que irão realizar a etapa final do método Wolbachia para o combate ao mosquito Aedes aegypti, antes da sua incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS), num prazo de três anos. As outras são Belo Horizonte (BH) e Petrolina (PE), demandando investimentos de R$ 22 milhões.
A nova tecnologia está sendo introduzida em Mato Grosso do Sul começando por Campo Grande, numa parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde (SES) e Município da capital. Em âmbito mundial o Programa, denominado World Mosquito Program (WMP), vem sendo testado desde 2011 em diversos países como Austrália, Colômbia, Índia, Indonésia e outros.
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