“Mosquito sem dengue” deve ser a aposta dos campo-grandenses para próximo verão

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Por essa os quase um milhão de campo-grandenses não esperavam:a aposta para vencer a guerra contra a dengue no próximo verão pode ser exatamente o mosquito Aedes aegypti. Sim: é bem provável que depois de conhecerem os fundamentos do Método Wolbachia, os moradores da capital sejam apoiadores do projeto que, em última análise, consiste na liberação de mosquitos que têm em seu organismo uma bactéria que inibe a proliferação dos vírus transmissores da dengue e outras doenças. 


Tubos para liberação do mosquito Aedes Aegypti com a bactéria. Foto: Maria da Glória Galembeck/Fiocruz.

A nova tecnologia está sendo introduzida em Mato Grosso do Sul começando por Campo Grande, numa parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde (SES) e Município da capital. Em âmbito mundial o Programa, denominado World Mosquito Program (WMP), vem sendo testado desde 2011 em diversos países como Austrália, Colômbia, Índia, Indonésia e outros.

No Brasil os estudos começaram em 2012; dois anos depois, houve uma liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia em duas áreas piloto: Tubiacanga, na cidade do Rio de Janeiro, e em Niterói onde, em 2017, ocorreu a primeira liberação em larga escala.

Em Campo Grande

Campo Grande foi escolhida pelo Ministério da Saúde como uma das três cidades brasileiras que irão realizar a etapa final do método Wolbachia para o combate ao mosquito Aedes aegypti, antes da sua incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS), num prazo de três anos. As outras são Belo Horizonte (BH) e Petrolina (PE), demandando investimentos de R$ 22 milhões.


Reunião na Secretaria de Estado de Saúde definiu as atribuições dos diversos órgãos para o projeto em Mato Grosso do Sul. Foto: Ricardo Minella.

Na capital sul-mato-grossense, os passos dos técnicos da Secretaria de Estado de Saúde, Prefeitura, Fiocruz e Ministério da Saúde, serão os seguintes: nesta semana, serão distribuídas quatrocentas “armadilhas” para a coleta de ovos do Aedes Aegypti. A seguir, os ovos serão encaminhados para o laboratório da Fiocruz no Rio de Janeiro, onde receberão a bactéria Wolbachia; depois retornam em cápsulas para Campo Grande, onde serão colocados em recipientes artificiais para eclosão. A liberação, na natureza, deve ocorrer até o final deste ano ou início do próximo.

“Estamos confiantes de que este método será a forma mais eficaz de vencermos a guerra contra a dengue”, avalia o secretário de Estado de Saúde Geraldo Resende. “Mas isso não significa que devemos nos descuidar e abandonar os métodos tradicionais de combate ao mosquito, pois a nova tecnologia ainda precisa de algum tempo para se consolidar”, enfatizou.

De acordo com o secretário, na aplicação do método Wolbachia, cada instituição assumiu o compromisso de viabilizar uma parte da logística. O Estado vai disponibilizar o laboratório de entomologia, administrado pela Coordenadoria de Controle de Vetores da Secretaria de Estado de Saúde (SES), além de dois entomólogos e dois técnicos que vão atuar no processamento das armadilhas para a captura dos ovos.

Segundo Mauro Lúcio Rosário, coordenador estadual de Vetores, para que o projeto atinja o estágio de liberação nos bairros da capital é necessário um trabalho de conscientização da comunidade por meio dos veículos de comunicação, escolas, unidades de saúde e organizações não governamentais.

“As pessoas serão informadas de que o mosquito Aedes aegypti com a bactéria não causa nenhum mal para o ser humano; pelo contrário, vai ser um aliado no combate à dengue”, salienta. “O método é seguro para as pessoas e para o ambiente, uma vez que a Wolbachia vive apenas dentro das células dos insetos”.

Outras doenças

Estudos têm comprovado que o método ajuda a proteger a região onde é aplicado de outras doenças propagadas pelos mosquitos. “O Aedes aegypti com a bactéria têm a capacidade reduzida de transmitir dengue, Zika, febre amarela e chikungunya”, afirma Mauro Lúcio.  Segundo ele, ao ser solto na natureza, o “Wolbito” – como apelidou o mosquito com a bactéria Wolbachia – se reproduz com os mosquitos de campo e gera Aedes aegypti com as mesmas características, tornando o método autossustentável, sem o uso de qualquer tipo de modificação genética.


Luciano Andrade Moreira, pesquisador da Fiocruz, responsável pelo projeto no Brasil. Foto: Divulgação.

“Ocorre uma redução significativa na capacidade de transmissão dessas doenças. Quando a Wolbachia está presente, a gente não consegue detectar os vírus da dengue, chikungunya e zika na saliva desses mosquitos”, confirma o pesquisador da Fiocruz, Luciano Andrade Moreira, que está acompanhando a implantação do projeto em Mato Grosso do Sul. A eficácia já foi comprovada em locais do Rio de Janeiro e Niterói onde houve a liberação do mosquito com a bactéria. Os primeiros resultados mostraram que a Wolbachia estava presente em mais de 80% dos mosquitos Aedes aegypti encontrados nos bairros onde os mesmos foram liberados.

A autossustentabilidade também veio de outra comprovação: a de que as fêmeas do Aedes aegypti com a bactéria transmitem naturalmente a Wolbachia para os filhotes. Porém se a fêmea não tiver a bactéria e for fecundada por um macho que a tenha, se torna estéril e seus ovos não geram novos mosquitos.

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