Projeto de escola estadual leva aluna para maior feira de ciências do mundo nos EUA

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Filha de uma diarista e de um mecânico eletricista, Thailleny Dantas Rezende, de 16 anos, soube aproveitar a oportunidade oferecida pelos professores na Escola Estadual Teotônio Vilela, na capital, para dar passos importantes no mundo da ciência. A estudante do 3º ano ganhou três premiações na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) e está com as malas prontas para participar, nos Estados Unidos, da maior feira de ciências do mundo para alunos do ensino médio.

Será a primeira viagem internacional de Thailleny, que sonha em se tornar bióloga: “Só tinha viajado para São Paulo e Paraná e graças à pesquisa viajei para outros lugares do Brasil. Viajar para os Estados Unidos é uma oportunidade única. Minha família não teria condições de pagar uma viagem como essa”. A Intel ISEF (sigla em inglês para Feira Internacional de Ciência e Engenharia) será realizada no período de 11 a 17 de maio em Phoenix, no estado americano do Arizona.

Thailenny estuda os impactos causados à flora do Cerrado sul-mato-grossense pela Leucena (Leucaena Leucocephala) – uma planta exótica do México introduzida no Brasil. Na escola estadual, os estudos sobre o assunto começaram em 2015, quando alguns alunos mostraram curiosidade por plantas exóticas e nativas e começaram a pesquisar sobre o tema.


Professor Vagner Cleber de Almeida coordena o projeto

O professor de Biologia Vagner Cleber de Almeida conta que o tema foi parar no Clube de Ciências – um projeto dentro da escola realizado no contra turno das aulas em que os estudantes fazem pesquisas sob a coordenação de professores e mediante autorização dos pais. “O Clube de Ciências é uma forma de conseguir prender a atenção dos alunos e incentivar o aprendizado”, explica. Ele é o coordenador pedagógico do projeto sobre a Leucena, feito pela aluna Thailenny, mas que já contou com o trabalho de outros estudantes.

Nas etapas iniciais, os alunos fizeram um levantamento florístico que constatou a presença expressiva da espécie em parques e na beira de córregos de Campo Grande. Eles também verificaram que outras espécies, inclusive nativas, tinham a presença inibida pela Leucena.

Veneno

Thailenny estudou de que forma isso acontece. É a chamada alelopatia. A planta libera substâncias químicas que afetam árvores e hortaliças: “Encontramos agricultores que identificaram prejuízos na plantação de alface; embaúbas que tiveram o desenvolvimento prejudicado, com porte menor e menos folhas; e até pé de guavira que não crescia como devia por estar próximo a Leucenas”. Abundante em Mato Grosso do Sul, a guavira é uma fruta do cerrado conhecida pela sua resistência.

Nativa do México, a Leucena chegou ao Brasil trazida por pecuaristas. A folha era usada para alimentar o gado. Mas por conta da grande produção de sementes e capacidade de dispersão, a planta acabou se espalhando por várias regiões. O resultado da pesquisa da Escola Estadual Teotônio Vilela serve como alerta ambiental e sócio-econômico para controlar o avanço da presença da planta exótica no cerrado.